Apesar de existirem técnicas modernas e cientificamente embasadas de educação canina, ainda há inúmeros tutores e profissionais que utilizam e recomendam métodos punitivos – veterinários também!
Há algum tempo, uma tutora contou-me que seu filhotinho de partor alemão estava latindo no consultório e o veterinário decidiu aplicar-lhe um alpha roll, para corrigir o comportamento, porque (segundo ele) o “cão estava o desafiando e merecia aprender uma lição”. Depois dessa consulta, o cão tornou-se reativo ao toque de estranhos – simplesmente, passou a morder qualquer um que o tocasse.
Alpha roll em cães
Praticar o alpha roll em cães é um exemplo de método punitivo e é uma pena que esses métodos sejam tão populares ainda!
Mas, afinal, o que são métodos punitivos de treinamento?
método punitivo é aquele que baseado na utilização de estratégias que intimidem, provoquem dor, medo, desconforto emocional ou físico, para diminuir a frequência de um determinado comportamento. O uso de aversivos é a base do método punitivo.
O dicionário Webster define a palavra aversivo como “estímulo punitivo que causa evitação“.
A Wikipedia aborda os aversivos sob a ótica da psicologia:
Aversivos são estímulos desagradaveis, que induzem a mudança do comportamento pela punição/medo, imediatamente após o comportamento inadequado ocorrer, para que a sua frequência diminua. A sensação aversiva varia entre um ligeiro e irritante desconforto (como uma latinha fazendo barulho) ao dano físico (colar de choque, por exemplo). Não é o nível do desconforto que determina se um método é aversivo ou não, mas, sim, o seu uso na mudança do comportamento.
É importante dizer que é o cão quem decide o que é aversivo para ele! Para alguns, por exemplo, uma trovoada é um estímulo aversivo, enquanto para outros, não. Para alguns, por exemplo, crianças são aversivos, para outros não – e assim por diante.

Efeitos da utilização dos métodos punitivos:

A questão principal que recai sobre a utilização desses métodos na “educação” dos cães refere-se à indução deliberada de sofrimento ao animal – além da total carência de empatia com esse ser, machucar (física ou mentalmente) para educar é, por si só, uma incoerência!
Entretanto, se esses motivos não forem suficientes, elencamos outros:
1) Pode colocar a integridade física de quem o utiliza em risco.
 
De acorcom com o estudo conduzido por Meghan Herron e Francis Shofer, quando cães são confrontados duramente, eles tendem a responder de forma agressiva. Mais precisamente, neste estudo:
– 43% dos cães responderam com agressão quando foram chutados;
– 39% dos cães responderam com agressão quando sofreram um alpha roll;
– 38% dos cães responderam com agressão quando o tutor agarrou-lhes a boca, para tirar alguma coisa de lá de dentro;
– 26% dos cães responderam com agressão quando foram sacudidos.
Cesar Milan é famoso por indicar a utilização de métodos punitivos na educação dos cães. 
Observe o que acontece quando ele confronta o cachorro da raça labrador.
2) A utilização dos métodos punitivos podem ser reforçadora para quem a utiliza.
 
Por exemplo: a pessoa frustrada desconta a sua frustração (com tapas, gritos, etc.) no cão e sente-se aliviada. A tendência é que a violência perpetue, uma vez que o alívio foi autorecompensante – mesmo que não tenha mudado o comportamento do cão.
3) A utilização de métodos punitivos produz medo e ansiedade nos cães.
Por condicionamento, cães tendem a criar associações negativas com situações desafiadoras – veja acima o caso do filhote de partor alemão que entende o toque como aversivo, depois que sofreu um alpha roll. No caso desse cão, qualquer toque o leva a um estado de medo, que é exacebado com a ansiedade que sente.

O reforço positivo deveria ser a primeira e única linha de educação, treinamento e modificação comportamental, assim como deveria ser aplicado consistentemente. O reforço positivo é associado à baixa incidência de agressividade, carência de atenção e medo.” –  Association of Professional Dog Trainers

4) Fazendo associações negativas, com um estímulo, o cão tende a generalizar a ansiedade e o medo para estímulos similares.
 
Não raramente, um cão que começa a reagir para bicicletas, na rua, “evolui” e passa a reagir para motos, carros e para qualquer outra coisa que se movimente.
Fonte: Agro Pet Mineiro

“Mesmo quando o aversivo parece ser leve, para ser efetivo na mudança do comportamento, ele precisará produzir uma resposta de medo muito forte, que não é inofensiva – e que pode se generalizar a tudo que soa ou parece semelhante ao aversivo.” –  American Veterinary Society of Animal Behavior

5) Uma vez que o medo, gerado pela utilização dos métodos aversivos, “crie raiz” e se consolidade, fica mais difícil erradicar os comportamentos indesejados, porque a autoconfiança do cão torna-se comprometida.
 
6) O estresse, a ansiedade e o medo gerados pela utilização dos métodos aversivos comprometem a capacidade cognitiva do cão – dificultando o aprendizado e a memorização.
 
7) Quando o cão aprende a se defender dos estímulos aversivos (com bocadas ou mordidas), esses comportamentos rapidamente começam a fazer parte do repertório de comportamentos desse cão.
 
Fonte: PeritoAnimal
8) O estresse gerado pela utiilização de métodos aversivos desencadeia comportamentos anormais ou estereotipados, como, por exemplo: lambedura compulsiva, correr atrás do próprio rabo, latir ccompulsivamente, automutilar-se, etc.
 
9) Não existe garantia de que os metodos aversivos funcionarão. Mas, existem garantias de que a saúde mental do cão será comprometida com a sua utilização.
 
10) Quando um comportamento é suprimido através da utilização de métodos aversivos, frequentemente, o cão cria outro comportamento para substituí-lo. por exemplo: o cão entediado, que é punido quando cava o jardim, para de cavar o jardim e começa a latir diante de qualquer situação.

“A punição pode suprimir a agressividade, mas não muda o que a desencadeia.” – American Veterinary Society of Animal Behavior

12) O uso de aversivos pode fazer com que o cão associe a punição à presença de uma determinada pessoa. Dessa forma, ele só interrompe o comportamento na presença dessa pessoa, mas continua a fazê-lo na sua ausência.
 
Muito comum em cães que são punidos por fazerem xixi e cocô no lugar errado – eles param de se aliviar na presença do tutor que o pune.
Fonte: Clube para cachorros

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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