Neste exato momento, você está fazendo a escolha de ler este texto. O tempo todo escolhemos o que fazer, o que comer, onde ir, com quem passar o nosso tempo… as nossas possibilidades de escolher são virtualmente infinitas. No entanto, quando perdemos o controle sobre nossas ações, podemos sofrer de “desamparo aprendido” e paramos de tentar fazer escolhas completamente. O mesmo é verdade para os cães que vivem em nossas casas.
Para alguns animais isso pode gerar graves conseqüências, evidenciadas tanto no comportamento (pelo desenvolvimento de comportamentos anormais ou de estereotipias comportamentais), quanto fisiologicamente (diminuição da imunidade, alterações digestivas, diminuição da fertilidade, etc.).
Oferecer opções de escolha para os animais que perderam a liberdade pode aliviar pode melhorar o bem-estar? A tomada de decisões impacta na cognição e na habilidade de resolver problemas?
Imagine que você esteja sentado na carteira da escola, quando dois professores entram na sala e pedem a você que resolva alguns quebra-cabeças. Eles lhe mostrarão peças com figuras coloridas e você deverá combiná-las até que seja formada uma imagem. O que eles não contam é que um deles lhe fornecerá peças que não tem combinação. O objetivo desse teste é observar se você continuará a experimentar ou se você, desistirá, quando descobrir que o quebra-cabeças é insolucionável.
As chances são de que você acabe desistindo – você descobre que não importa o que faça, não há formas de conseguir resolver os quebra-cabeças. É exatamente assim que os alunos de 11 anos de idade em um estudo como esse responderam – quando perceberam que não podiam resolver as tarefas, pararam de tentar, mesmo quando o segundo pesquisador começou a apresentar quebra-cabeças solucionáveis (Dweck & Reppucci, 1973). Este é um fenômeno conhecido como “desamparo aprendido”, em que uma pessoa internaliza a idéia de que suas ações não têm efeito sobre o ambiente (Seligman, 1975).
Embora o desamparo aprendido tenha sido bem documentado em humanos, ele também afeta animais com liberdade cerceada. Nesses animais não humanos e cativos, o desamparo aprendido pode ser induzido de várias maneiras, como demonstrado pelo trabalho inicial de Seligman com cães (Seligman & Maier, 1967). Além de um estado de desamparo aprendido experimentalmente induzido, os animais em cativeiro têm intrinsecamente muito menos controle sobre suas vidas do que suas contrapartes que vivem livres (Hosey, 2005). Enquanto os animais selvagens fazem uma infinidade de escolhas todos os dias – para onde ir, o que comer, onde dormir, com quem acasalar – os animais em cativeiro (sim, nossos cães são animais de cativeiro) têm a grande maioria das escolhas feitas por seus cuidadores humanos. Eles também têm pouco ou nenhum controle sobre o ambiente ao seu redor, incluindo estímulos como luzes, música e temperatura. Devido a essa falta de controle, os animais em cativeiro podem desenvolver o desamparo aprendido, assim como os escolares frustrados.
Para aliviar os efeitos dessa falta de controle, os cuidadores de animais mantidos em cativeiro começaram a encontrar maneiras de devolver o controle a eles. Uma maneira pela qual pesquisadores e provedores de cuidados animais tentaram isso foi a implementação de uma abordagem de “demanda do consumidor”, na qual animais cativos são capazes de fazer escolhas crescentes sobre certos aspectos de suas vidas diárias (Schapiro & Lambeth, 2007).
Preferências
Quando os pesquisadores dão opções aos animais, eles descobrem que eles têm suas próprias preferências individuais (o que não é uma surpresa para nós, que temos um animal de estimação). Animais têm preferências alimentares, lugares prediletos para descansar, amigos com quem interagem melhor, objetos e até atividades preferidas.
Entender essas preferências é valioso para oferecer um ambiente mais enriquecido e estimulante para os animais. No entanto, a utilidade prática desta informação é limitada. Por um lado, não podemos dizer se os animais preferem algo porque eles realmente gostam ou se eles estão evitando algo que eles não gostam – por exemplo: o que escolher entre buchada e dobradinha (que os apreciadores dessas iguarias me perdoem pela comparação!). Além disso, as escolhas que os animais fazem também podem ser influenciadas pelo seu ambiente – por exemplo: se a comida é um recurso escasso, eles comem inclusive o que não gostam, para sobreviver.
Mas e se formos mais longe: e se a capacidade de escolher for, por si só, importante? O simples ato de escolher faz alguma diferença?
Escolhas
De fato, os pesquisadores descobriram que a oportunidade de escolher tem impacto positivo no bem-estar, mesmo quando os animais não gostam do que escolheram.
Animais com liberdade cerceada, como os nossos cães e gatos, tem o controle de suas vidas reduzido, quando comparados aos seus parentes de vida livre, e os estudos têm demonstrado que ter algum grau de controle e poder de decisão sobre o seu ambiente é importante para o bem-estar. Isso nos oferece uma promissora oportunidade – embora não possamos oferecer aos nossos cães o controle completo, sobre todos os aspectos de seu ambiente, podemos oferecer algumas opções, para dar uma pequena quantidade de oportunidade de escolhas e assim aumentar seu bem-estar.
Como oferecer algum grau de controle e de escolhas aos nossos cães?
Alguns exemplos:
  • Respeitando a preferência alimentar dele
  • Respeitando o horário que ele prefere se alimentar
  • Permitindo que ele durma quando tiver vontade
  • Permitindo que ele se recolha para um lugar afastado, quando tiver vontade
  • Permitindo que ele escolha o trajeto durante o passeio (obviamente, se não impuser riscos a ele ou a ninguém)
  • Permitindo que ele fareje e marque território, à vontade, durante o passeio.
O paradoxo da escolha
O “paradoxo da escolha” é um fenômeno desconcertante dos tempos atuais, que tem sido observado em humanos, que estão diante de muitas possibilidades de escolher.
Mesmo diante de escolhas são positivas, quando elas são excessivas, observa-se aumento de ansiedade e de estresse no indivíduo (Shenhav & Buckner, 2014). Um ótimo exemplo disso é o menu de filmes da Netflix!
Texto traduzido e adaptado de Laura M. Kurtycz – Choice and control for animals in captivity. 
Para ler o texto original, clique aqui.

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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