Texto brilhante de Mário Corso, publicado na coluna do jornal ZH, em 29/07/2017.
Créditos: @gomithefrenchie 
Amores torturantes
Se seu cachorro falasse, o que ele diria dos infernais secadores de cabelo em suas orelhas sensíveis e do abominável perfume que lhe colocam?
Por esses acasos da vida, tocou-me a sorte de viver uns anos com meus avós. Estávamos num inverno úmido, frio e ventoso como só quem morou em Santa Maria sabe como é. Nossa cachorrinha Keti tiritava de frio. Minha avó e eu nos apiedamos e ela, habilidosa que era, teceu-lhe uma roupa.
Quando a vestimos, escondeu-se atrás de um sofá e nada a fazia sair. Estava vexada. A roupa feriu seus sentimentos caninos, sua linhagem de vira-latas sentia-se ultrajada. Despida voltou à sua alegria habitual. Outras tentativas fracassaram e desistimos.
Meu avô ria calado, deixou que a experiência falasse por si. A cadela preferia enfrentar o frio vestindo apenas seu pelo. Sobreviveu àquele inverno e a muitos outros. O quanto teríamos que insistir para dobrá-la eu não sei, o fato é que respeitamos sua vontade.
Lembro disso para saudar a bem-vinda nova sensibilidade que temos para com os animais, mas também para perguntar até que ponto podemos negar-lhes sua natureza. Criamos cães do tamanho de ovelhas em lugares exíguos ou damos vidas tediosas, de poltrona, a animais caçadores, ratoneiros e pastores, sabendo que eles necessitam de atividades instigantes, horas de caminhada e de muito espaço para sentirem-se bem. Achamos natural que alguém tenha muitos gatos em um pequeno apartamento, mesmo sabendo que os felinos têm delicadas questões territoriais e lhes é tenso viver amontoados.
Existe uma personagem de desenho animado chamada Felícia (Tiny Toon), uma menina ruiva que “ama” os animais. Sua figura é uma crítica aos adoradores de pets, que realmente amam a possessão mas ignoram as reais necessidades de cada espécie. A garotinha ruiva é especialista em abraços sufocantes, que esmagam os infelizes que não fugiram a tempo. O que me pergunto é o quanto somos “Felícias”, acreditando que nosso apreço é o que basta para eles e, em nome disso, os transformamos em bichos de pelúcia animados, ou melhor, desanimados, obesos e doentes.
Em inglês, existe a expressão “crazy old cat lady” (velha maluca dos gatos) para designar pessoas isoladas que substituem o convívio humano por animais. Isso diz de um comportamento doentio, mas será que não temos um pouquinho disso em nós, “normais” possuidores de pets? Conviver com animais é uma experiência enriquecedora da qual nunca me privei, mas convinha ponderar: qual é o limite do que nossa carência pode impor a outras espécies?
A desnaturalização pode ser uma forma de tortura. Se seu cachorro falasse, o que ele diria dos infernais secadores de cabelo em suas orelhas sensíveis e do abominável perfume que lhe colocam depois do banho? Acredita mesmo que algum cachorro no mundo quer ser um sachê floral? Como dizem os psicanalistas: todo cuidado é pouco com quem quer nosso bem!




 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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