(Texto da internacionalmente renomada comportamentalista canina positiva, Cláudia Estanislau. Para ler o texto original, clique aqui)
Créditos da imagem: Pinterest

Essa pergunta é muito frequente, muitas pessoas que têm cães adorariam ter um gato, mas temem que o relacionamento entre ambos seja difícil, no mínimo, e até perigoso, no máximo. Esses medos não são de todo infundados. Um cão que nunca foi sociabilizado a gatos, anteriormente, e gatos que nunca antes tenham sido sociabilizados a cães podem demonstrar comportamentos problemáticos e reativos quando se vêem pela primeira vez.
Lembre-se, portanto, quando adquirir um cão ou um gato que deverá sempre tentar sociabiliza-lo a esses animais, para no futuro ter a vida facilitada. Mas agora tem o cão, e quer o gato e não sabem como fazer.
O maior erro que as pessoas cometem é terem pressa.
As pessoas querem que o cão e o gato se dêem bem logo à primeira ou rapidamente. Por vezes, isso surpreendentemente acontece, no entanto, essas exceções não ditam a regra e a regra diz que a segurança de ambos os animais está nas nossas mãos. Como tal, devemos fazer tudo com calma, segurança e paciência dando a oportunidade a ambos os animais de se sentirem seguros, confiantes e imprimirem o seu ritmo.
Vamos então por passos:
*      Primeiro leve o gato para sua casa e mantenha-o num local seguro, de onde ele não possa ver os cães, nem vice-versa. Neste local deve ter a caixa de areia sempre limpa diariamente, uma cama confortável de preferência num local mais alto (mas suficientemente baixo para o gato conseguir chegar à mesma, dependendo da idade do gato), comida e água. Deve dar tempo ao gato para se ambientar ao local, não apresente o gato a todos os locais da casa de uma só vez, eles ficam intimidados e estranham com facilidade. Deixe que ele se acostume a um dos locais primeiro, que será o local primário onde ele passará mais tempo e depois à medida que os dias passam e que o gato fica mais confortável deixe-o explorar outro cómodo, depois outro, etc.. um de cada vez.
*      Durante este tempo, leve mantas, cobertas ou simplesmente quando estiver com o gato, vá depois ter com os cães e vice-versa. Levar objectos com o cheiro específico ou deixá-los ambos gatos e cães absorverem o cheiro, ajuda bastante a um encontro posterior. O cheiro é muito importante para estes animais adquirirem informações específicas acerca uns dos outros.
*      Quando o gato estiver ambientado e os cães já tiverem tido tempo de se aperceberem que existe em casa um novo membro, pode preparar para que se vejam em segurança. A melhor forma de fazer isto, será através de um vidro, varanda, janela, etc. Lembre-se, no entanto, que é muito importante não deixar os cães ladrarem ou agitarem-se quando veem o gato, portanto vá munido de salsicha, frango cozido ou algo muito apetitoso como queijo, e vá dando ao seu cão assim que ele vir o gato, e de forma a mantê-lo calmo entregue a comida num ritmo bastante alto. Estas pequenas sessões em que o cão vê o gato e vice-versa e são recompensados com comida apetitosa devem ser curtas e muito bem reforçadas (muita comida apetitosa e única aparece quando um vê o outro). Pode repetir este exercício várias vezes durante um dia, sempre da mesma forma.
*      Não se esqueça que durante esse exercício e se possível dê também ao gato algo extremamente apetitoso. Pode ser comida húmida, ou queijo ou fiambre ou algo que eles gostem muito mas que, tal como os cães, só têm direito a comer na presença um do outro. O intuito é criar uma associação positiva entre os dois animais. Queremos que o cão pense “Boa! Está ali o gato vou comer galinha! Eu gosto de ver o gato” e o gato pense “Boa! Está ali aquele cão, vou comer queijo! Eu gosto de ver o cão”.
*      Depois de vários dias, ou semanas conforme o caso, a fazer este exercício começar a perceber que tanto o cão como o gato já entenderam que quando se veem um ao outro coisas boas acontecem – como acesso a comida especial – pode começar a fazer com que o gato se movimente. Lembre-se que usualmente o que provoca as maiores reacções no cão é exactamente o movimento dos gatos. A maioria dos cães aprendem por erro e tentativa que quando ladram em direcção a gatos, estes tendem a começar a correr que nem loucos e que isto instiga o instinto de presa no cão e é uma óptima forma de brincar. Muitos cães veem gatos como brinquedos activados a voz. Como tal vamos treinar também o movimento e como queremos que o cão reaja quando o gato se move.
*      Comece por colocar a comida do gato dois ou três passos à frente dele e deixe que ele se mexa. Enquanto antes estaria a dar a comida na boca do gato, assim como na boca do cão, agora comece a atirar a comida a dois ou três passos do gato. O cão deverá manter-se quieto e alimentado à boca. Se conseguir manter o seu cão deitado melhor, já que é uma posição mais estável e menos invasiva para o gato. Treine e repita este exercício várias vezes até ter o gato a caminhar de um lado para o outro, 4 a 6 passos de cada vez e devagar.
*      A seguinte etapa pode começar a movimentar mais o gato, brincando com ele com algum brinquedo que o gato goste. Uma bolinha, uma caninha de pesca, algo que faça com que ele se movimente mais. Enquanto isto acontece, alguém está com o seu cão a dar-lhe comida por observar o gato a movimentar-se cada vez mais. Pode ser que nesta fase tenha que aumentar novamente o ritmo com que dá comida ao cão para o manter calmo e atento, mas se fizer tudo com calma, sessões curtas e ao ritmo de ambos, o cão deverá mesmo que fique curioso, calmo e deverá ser relativamente fácil mantê-lo calmo.
*      Se chegou a esta etapa e consegue mover o gato e manter o seu cão quieto, passe à fase seguinte, retire a barreira (abra a janela, varanda, etc…) e recomece o exercício de dar comida ao gato e ao cão enquanto o gato se aproxima. No início é boa ideia manter o cão quieto e deixar o gato movimentar-se. Lembre-se que se o cão se mover subitamente ou algo acontecer e o gato estiver inseguro ele pode subitamente correr, e isso pode provocar uma reacção no cão, portanto tente preparar bem o ambiente onde vai fazer isto e esteja preparado para dar comida ao cão e segurar na trela dele caso ele se levante.
*      Quando após várias repetições da fase anterior, tanto o gato como o cão se mostrarem calmos, pode deixar que ambos se cheirem ou se aproximem. Esta fase deve ser feita com muita calma, não deixe o cão dar focinhadas ou meter a pata em cima do gato porque isto pode assustar o gato ou fazer com que ele tenha movimentos bruscos ou queria fugir. Não segure o gato, para evitar que ele não tenha como fugir. Ambos o cão e o gato podem estar seguros (com trela, dentro de transportadora, etc..) mas esteja constantemente atenta à linguagem de ambos os animais, se eles mostrarem algum desconforto, pare imediatamente e aumente a distância ou tire o animal da situação.
Este processo é lento mas garante resultados imbatíveis. No meu caso com uma X de Pitbull que persegue gatos e procura gatos debaixo dos carros e com um Border Collie que adora perseguir e pastorear tudo, foi um desafio, mas desde que os tenho, que os acostumei ao Jaime, depois à Emília e agora ao Mancha Moe Joe Puminha.  
Todos passaram por este processo e fomos sempre bem sucedidos e até hoje conseguimos ter os 4 numa sala juntos e a dormir juntos sem problemas.  O gato mais velho o Jaime, inclusive diz olá aos meus dois cães roçando-se neles e oferecendo comportamentos de conforto e bem-estar perto deles. A Emília ignora a Safira mas cheira e diz muitas vezes olá ao Joel.
A lentidão do processo garante que tudo corre bem, com segurança e que os resultados são para sempre. Requer paciência e trabalho e algum conhecimento e todos os cães e gatos são diferentes, pelo que se estiver com dificuldades entre em contacto com um dos nossos treinadores para que possamos ajudar. Mas se estiver preparado para colocar o trabalho em prático que é necessário os resultados são inconstestáveis.

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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