Há 30.000 anos, os cães não existiam. Hoje temos cães grandes, pequenos, fofos, guardiões, pastores, caçadores… todo tipo de cão que você possa querer! Mas, como isso aconteceu? De onde eles vieram? A resposta é uma força transformadora, que parece inacreditável, chamada seleção genética.
Trinta mil anos atrás, quando nossos ancestrais moravam no inverno da última era glacial, todas as plantas e todos os animais eram selvagens. Nossos ancestrais eram andarilhos e viviam em pequenos grupos – eles caçavam e coletavam tudo que comiam e que vestiam. Quando encontravam um local com muita comida, ficavam por ali algum tempo. Porém, sentiam medo de outras criaturas famintas: leões, tigres, ursos e lobos que competiam pelo mesmo alimento e ameaçavam os mais vulneráveis do grupo humano.
Lobo selvagem
Todos os lobos queriam roubar a comida dos humanos, mas nem todos se aproximavam porque sentiam medo. O medo também se deve aos altos níveis do “hormônios do estresse” no sangue circulante – é uma questão de sobrevivência, pois chegar perto dos humanos poderia ser fatal. Acredita-se que, alguns lobos, em função de variações individuais, têm níveis mais baixos desses “hormônios do estresse” e, até, níveis mais elevados dos “hormônios da calma” (serotonina, por exemplo) – dessa forma, sentem menos medo de se aproximar dos humanos.
Esses lobos “mais calmos” (ou menos agressivos, como você preferir) descobriram uma excelente estratégia de sobrevivência: a domesticação de humanos. “Encha a casa de humanos. Não os ameace e eles deixarão que coma seus restos, sem que seja preciso fazer esforços para isso”. Dessa forma, esses lobos “mais calmos” comiam mais regularmente e produziam mais descendentes que também apresentavam essa característica de níveis mais baixos de “hormônios dos estresse”.
Acredita-se que esse processo de “sobrevivência do mais amigável” (a domesticação dos lobos) começou há cerca de 10.000 anos, coincidindo com o período em que o homem passou a plantar e a deixar o nomadismo. Naquela época, o contato com aqueles animais também foi vantajoso para os humanos. Os cães não eram apenas um esquadrão de limpeza dos restos de comida, eles garantiam a segurança.
Conforme se mantinha essa parceria interespecífica, o comportamento do lobo também foi mudando. A fofura virou uma vantagem seletiva: quanto mais adorável fosse, mais chances tinha de viver e de passar seus genes para a outra geração. O que começou como uma aliança de conveniência, tornou-se uma aliança de afeto.
Domesticação do lobo selvagem. Fonte: http://domesticatedsilverfox.weebly.com/domestication.html
Os lobos trocaram sua liberdade por refeições garantidas. Abriram mão do direito de escolher seu par – os humanos passaram a escolher por eles. Os lobos que não respondiam ao treinamento eram mortos, como também eram aqueles que mordiam a mão de quem os alimentava. Os humanos criavam apenas os lobos/cães que gostam, cuidavam apenas daqueles que faziam a sua parte: aqueles que caçavam, pastoreavam, guardavam, puxavam o trenó e faziam companhia. A cada ninhada, os humanos selecionavam os filhotes com melhor temperamento e, ao passar das muitas gerações, os lobos/cães evoluíam esse traço amigável do comportamento. Esse tipo de seleção é chamada de seleção artificial ou criação. Transformar lobos em cães foi a primeira vez que nós, humanos, tomamos as rédeas da evolução e temos feito o mesmo desde então, para moldar as diversas raças caninas que conhecemos.
Husky siberiano. Fonte: Portal de Dog
Em um piscar de olhos em tempo cósmico (10 mil anos não representam nada quando o assunto é evolução) transformamos do lobo cinzento em todas as espécies de cães que você conhece. Pense nisso: todas as raças caninas, que você já viu, foram esculpidas por mãos humanas. As raças caninas mais populares foram criadas apenas nos últimos séculos!
O buldogue francês é uma raça que surgiu no século XIX
Apesar de existirem várias formas e tamanhos de cães, observe que a diferença básica entre eles e os lobos é apenas o temperamento. Justamente por isso, cães são classificados como uma sub-espécie do lobo cinzento. Taxonomicamente falando:
Lobo cinzento = Canis lupus
Cão = Canis lupus familiaris
Com exceção do quesito temperamento, cães e lobos são idênticos – inclusive, podem acasalar-se e produzir descendência fértil. Sob a perspectiva evolutiva, dez mil anos é um tempo insignificante e inapto a produzir qualquer mudança significativa na fisiologia canina. Todos os processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos lobos, também ocorrem em nossos cães.
Nossos cães são apenas amostras de pequenos lobos usando perfume.
Cães e lobos são geneticamente idênticos, por isso classificados como sendo de uma única espécie: Canis lupus. Na imagem, um akita (fisicamente muito parecido com o lobo) e um buldogue francês.
→ Leia todos os nossos posts que abordam o tema Evolução Genética em cães
→ Texto inspirado no documentário “Cosmos – coisas que as moléculas fazem”.
“O maior causador de problemas comportamentais é, sem dúvida, o exagero na humanização dos cães. Temos uma necessidade sócio-psíquica de antropomorfizar os animais (ao estilo Disney, o que acaba prestando um grande desfavor), pois achamos fofo e, de certa forma, porque isso nos gera até um certo conforto. Mas devemos ter plena consciência de que cães não são seres humanos!
Eles não sentem culpa, inveja, ódio, ciúme e muito menos tem a capacidade de fazer ou deixar de fazer algo conscientemente com o objetivo de nos desafiar, agradar ou desagradar propositadamente.
Precisamos deixar estas amarras para trás e enxergar nossos cães da maneira como eles realmente são e tratá-los como eles merecem. Proporcionar o que é natural para eles. Pare de cobrar o que ele não entende. Pare de esperar dele mais do que ele é capaz de dar. Pare de humanizar o seu cão!” (Cláudia Simões, comportamentalista canina positiva)
Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.
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