Vou lhe fazer uma pergunta e eu quero sua resposta instintiva. Responda rápido!
Com o que você alimentaria um leão?
Aposto que você respondeu: carne. Carne é obviamente a resposta certa. Você alimenta um leão com carne crua. Creio que até o vegetariano mais ardente admitiria que um leão deve comer carne. Mas por que eles “deveriam” comer carne? Como nós determinamos o que um ser vivo deveria comer?
Obviamente, leões são predadores. Eles caçam e comem animais quando em vida selvagem. Mas não é só isso.
Leões caçam e comem animais, e eles e seus ancestrais felinos têm feito isso por centenas de milhares de anos, até mesmo milhões de anos. ESSA É A CHAVE.
Caçar, matar e comer carne crua moldou a evolução dos leões por muitos milhões de anos. A constituição genética do leão foi esculpida comendo carne. Seus dentes e garras são feitos para matar, seu trato digestivo é feito para processar proteínas e gorduras das presas. Você poderia mesmo dizer que os genes de um leão esperam por uma dieta de carne crua como a de seus ancestrais, e funcionam melhor com ela. Ao contrário, uma dieta que divirja dramaticamente da dieta ancestral será provavelmente prejudicial, com o grau de dano sendo proporcional ao grau de divergência. Uma dieta vegetariana deixará seu leão doente e fraco; uma dieta vegana provavelmente o mataria.
Ninguém argumentaria contra alimentar leões com carne crua, e qualquer um que entenda a seleção natural (aquela proposta por Charles Darwin) concordaria que leões funcionam melhor com uma dieta de carne crua pois evoluíram com uma dieta de carne crua.
Isso funciona com outros animais, também. Vacas comem grama, não carne. Gatos, estes pequenos leões domésticos, comem carne, não grãos e vegetais.
E os cães? Cães comem farinha de vísceras de aves, farinha de proteína isolada de suíno, milho integral moído geneticamente modificado, quirera de arroz, gordura de frango, polpa de beterraba, gordura suína, glúten de milho geneticamente modificado, glúten de trigo, óleo de peixe refinado, óleo de soja refinado geneticamente modificado, pentasódio trifosfato… Espere! (som de disco arranhando). Isso não está certo.
Cães são animais também, certo? Estão no planeta há mais de 100.000 anos e seus ancestrais há milhões de anos. E, por todos esses milhares de anos, comportaram-se como carnívoros. A fisiologia digestiva deles comprova isso: não possuem a enzima amilase na saliva que digere carboidratos; não possuem rúmen – “estômago” extra – que digere vegetais; apresentam intestinos delgados curtos, inadequados para a digestão de grãos; produzem sua própria vitamina C, praticamente dispensando a suplementação dessa substância originalmente presente nos vegetais; possuem pH estomacal extremamente ácido, uma provável adaptação para o consumo de carnes cruas (contaminadas).
Se você aceita que a biologia dos leões, funciona melhor sob suas dietas ancestrais e evolutivas, o mesmo não seria provavelmente verdadeiro para os cães?
Não deveríamos olhar com mais cuidado, de forma um pouco mais cética, para as comidas que passaram a estar disponíveis para cães apenas nos últimos 40 anos? Os genes dos cães certamente “pensam” que eles ainda estão caçando, pois eles pouco mudaram nos últimos 150.000 anos – a prova disso é que cães e lobos podem acasalar e gerar prole.
Seus genes esperam por certos alimentos, certos níveis de atividade. Eles funcionam melhor quando expostos a condições iguais ou similares àquelas sob as quais evoluíram. E há uma coisa importante sobre os genes: eles podem ser ligados ou desligados, ou mais tecnicamente falando, eles podem ser “expressos”.
Só porque um cão possui genes, digamos, para cardiopatia, não significa que ele esteja destinado a desenvolver doenças cardíacas. Simplesmente significa que, na dependência de algum estímulo em seu ambiente, esses genes irão ativar-se (ou desativar-se) e o cão terá uma chance maior (ou menor) de desenvolver a doença. Isso se chama expressão gênica. E a qualidade da alimentação está diretamente ligada à expressão gênica.
A nutrigenômica explica o melhor desempenho genético sob o uso de uma alimentação biologicamente apropriada.
Vou lhe fazer uma pergunta, e eu quero sua resposta instintiva. Responda rápido! Com o que você alimenta seu cão?
Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.
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