Camilli,
lhe escrevo porque estou bastante preocupada com minha frenchie Purinha.
A Purinha tem acessos de intermação (hipertermia), até dentro de casa.
Hoje ela está com 1 ano e meio. Sempre foi muito sensível ao calor desde filhotinha (chegou em nossa casa com 60 dias), mas a sensibilidade dela ao calor parece estar aumentando.
Só posso passear com ela se o tempo estiver frio e só se for bem cedo, de manhã. Se ela se cansa e se houver um calorzinho ela sofre intermação (hipertermia). Se o ar condicionado do carro não estiver ligado, é intermação (hipertermia) na certa.
Ano passado, fiz uma peregrinação em vários veterinários famosos daqui de São Paulo, tentando entender o problema dela, mas não tive respostas. Me disseram que ela não tem colapso de traqueia, o céu da boca (palato) dela é normal e por aquele exame que passa o tubinho pelo nariz (fibronasolaringoscopia) deu para ele não é tampado.
Sofro muito em ver as limitações da minha pequena e não sei mais o que fazer. Você pode me ajudar?
Você acha que ela aguentaria uma gestação?
Obrigada e um grande beijo!
Letícia (SP/SP)
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Olá Letícia!
Se por diagnóstico veterinário foram excluídas as possibilidades de narinas atrésicas, palato mole estentido e colapso de traqueia é prudente pensar em uma diminuição da luz da traqueia. Este também é um quadro da síndrome braquicefálica e esta descrito no post Problemas Respiratórios em Raças Braqueicefálicas.
A traqueia é um tubo, formado de anéis cartilaginosos, que leva o ar aos pulmões.
Em situações de calor ou stress, qualquer cão hiperventila normalmente, para regular a temperatura e compensar o stress. O problema para cães braquicefálicos, em um ambiente quente, é que a hiperventilação aumenta a temperatura do corpo.
Nos cães que possuem a traqueia mais estreita que o normal, como não entra um volume de ar suficiente nos pulmões, o cão tende a estressar mais, hiperventilar mais e esquentar mais – é uma reação cíclica, que pode culminar com a morte do cão se ele não for resfriado.
A longo prazo, a pressão exacerbada do ar sobre os anéis da traqueia pode acabar provocando a frouxidão dos mesmos e provocar um outro quadro, chamado colapso de traqueia.
Infelizmente, não há tratamento clínico ou cirúrgico para essa condição. É importante manter uma rotina tranquila para o cão, sem stress, em ambiente fresco, dentro de casa, para que ele possa ter qualidade de vida. Atividade física não é recomendada para cães com hipoplasia traqueal.
Em casos de cães muito ansiosos, tratamento com florais e/ou homeopatia pode ajudar bastante – lembre-se que a ansiedade dispara o gatilho para a hiperventilação.
Acasalar um cão braquicefálico com problemas respiratórios é contra-indicado – aliás, é contra-indicação absoluta.
No caso da sua frenchie Purina, acasalá-la coloca em risco sua própria vida. A gestação onera demais uma cadela saudável, os filhotes comprimem o diafragma e reduzem o volume de ar que entra nos pulmões . Imagine uma cadela que já tem dificuldades de respirar!!!
Além do mais, essa condição pode ser passada aos descendentes da sua cadela e tenho certeza absoluta que você não gostaria que nenhum outro frenchie sofresse as limitações que a Purinha sofre!
Alguns pregam que acasalar um cão com a doença X, com outro cão que não tem a doença X é manejo genético e pode-se obter “bons resultados” desta forma.
Não acredito nisso. A genética não funciona desta maneira.
Tenho visto coisas demais e acredito que os testes de saúde estão aqui para nos mostrar quem deve ser reproduzido e quem não deve.
Saúde sempre em primeiro lugar!
E, definitivamente, frenchies precisam respirar bem!