* * * * * * * * * * * * * * *
Introdução
A dirofilariose é provocada por um parasita – que possui forma de espaguete(!) – chamado Dirofilaria immitis. O D. imitis aloja-se nas artérias pulmonares e no ventrículo direito do coração e, embora cães e canídeos selvagens sejam considerados hospedeiros definitivos deste parasita, pode haver infecção em várias outras espécies animais, inclusive o próprio homem.
Coração infectado com D. imitis – por essa razão o nome “verme do coração”
Não existe transmissão direta da doença entre animais afetados, sendo necessária picada do mosquito (Aedes, Anopheles, and Culex spp.) para transmissão do parasita.
Fêmea do mosquito Anopheles sp. em pleno vôo, depois de se alimentar
O ciclo maligno que ocorre entre cães e mosquitos é muito simples:
1) Em cães infectados, parasitas fêmeas de D. imitis liberam microfilárias (larvinhas minúsculas) na corrente sanguínea;
2) Mosquitos picam o cão infectado e infectam-se com microfilárias em sua deliciosa refeição;
3) Nas próximas 2 semanas, no interior do mosquito, as microfilárias irão se transformar em larvas;
4) Um mosquito repleto de larvas, que morder um cão, irá contaminá-lo.
Somente dentro dos mosquito as microfilárias transformam-se em larvas.
Somente com os cães ocorre o fechamento do ciclo.
Quais são os sintomas da dirofilariose?
Os sintomas dependem, principalmente, da carga parasitária do indivíduo e da resposta imune do indivíduo. A sintomatologia geral inclui normalmente cansaço, perda de apetite, dificuldade respiratória. Sinais específicos podem incluir tosse crônica, pêlo seco, perda de peso, sangue na urina, inchaços pelo corpo, perda da conciência e morte súbita.
Como diagnosticar?
O diagnóstico feito pelo médico veterinário é baseado nas informações obtidas junto ao proprietário, no exame clínico e nos exames complementares que detectam a presença de microfilárias no sangue e de anticorpos. Pode-se lançar mão de outros recursos, como, radiografia do tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma, além de exames para avaliação da função dos rins e fígado nos estágios mais avançados da doença.
Achados importantes e intrigantes
1. A literatura relata que a medicação preventiva é a uma arma que os proprietários de cães tem contra os mosquitos. Entretanto, os cães não devem ser medicados antes de serem examinados e diagnosticados D. imitis-free.
2 – Observem essas estatísticas:
Segundo Garcez e cols.:
A dirofilariose canina está presente em vários estados de todas as regiões do Brasil. As maiores prevalências descritas no país estão em áreas banhadas por rios e mares, providas ou próximas de lagos. Na orla marítima de São Luis, foco ativo de transmissão da D. immitis, é descrita a prevalência de 24%, com destaque aos bairros Olho d’Água (46%), Alto do Calhau (43%) e Calhau (25%). Nos distritos do litoral em Maceió, Estado do Alagoas, a prevalência de filariose canina (3,7%) é superior a observada no centro da cidade, em áreas mais urbanizadas (1,2%). Na Cidade de Florianópolis, Estado de SC, varia ao longo da costa marítima de 0 a 20%.
*entende-se por focos a presença de cães contaminados
Segundo Labarthe e cols.:
(…) as taxas de infecção foram de 8,61% para o Rio de Janeiro (zona oeste 8,33%, Barra 12,73%, Jacarepaguá 15,79%, zona sul 5,94% e zona leste 1,92 %), 21,76% em Niterói e arredores (centro 12,12%, Icaraí 12,34%, São Francisco 29% e Oceânica 43,40%), de 33,33% margem leste e 30,43% estâncias montanhosas próximas.
Segundo Souza e Larsson:
No Brasil, a distribuição da dirofilariose já foi notificada em todas as regiões: 1,1% no Rio Grande do Sul; 12,5% em Santa Catarina; 12,4% na Paraíba; 12,5% em Alagoas; 9,6% em Cuiabá; 14% no Rio de Janeiro; 29,7% em Niteroi (RJ); 10,7% em Belém (PA), 2,3% em Recife (PE) e 8,8% no Estado de São Paulo.
Conclusões e ponderações
O conceito de
posse responsável é importantíssimo no controle da dirofilariose canina. Uma vez que os cães são necessários para que o ciclo do D. imitis se complete, conclui-se que a superpopulação canina contribui para o avanço da doença.
As taxas de infecção, por todo o Brasil, são elevadíssimas! Entretanto, nunca ouvi nenhum caso de cão sendo tratado ou morto por dirofilariose.
Onde está a incoerência?
Dirofilariose é doença “malvada” mas não se manifesta em muitos cães, por alguma razão que suspeito, mas não ousarei falar. Conversem com seus vets sobre a necessidade de proteger seus cães!
Em tempo:
Se há alguém que entenda de entomologia: em bases bioquímicas, por que será que a coleira scalibor é repelente para os flebotomídeos, (além de pulgas e carrapatos), mas dizem não ser eficaz para Aedes, Anopheles e Culex?
Referências bibliográficas:
Charles Lobeck, Kenneth S. Latimer.Dirofilariasis in the Dog: An Overview.Veterinary Clinical Pathology Clerkship Program. http://www.vet.uga.edu/vpp/clerk/Lobeck/index.php
Francis C. Rabalais, Michael G. Shields, A. Daniel Ashton. A reeavaluation of canine dirofilariasis in northwestern Ohio. OHIO J. SCI. 78(2): 106, 1978
Lourdes Maria Garcez; Nazaré Fonseca de Souza; Eduardo Ferreira Mota; Luís Antonio Jerônimo Dickson; Wandercleyson Uchoa Abreu; Vânia de Fátima do Nascimento Cavalcanti; Patrick Abdala Fonseca Gomes.Focos de dirofilariose canina na Ilha do Marajó: um fator de risco para a saúde humana. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.39 no.4 Uberaba July/Aug. 2006
N.F. Souza, M.H.M.A Larsson. Freqüência de dirofilariose canina (D. immitis) em algumas regiões do Estado de São Paulo por meio da detecção de antígenos circulantes. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. vol.53 no.3 Belo Horizonte June 2001
Norma Labarthe, Nádia Almosny, Jorge Guerrero, Ana Maria Duque-Araújo. Description of the Occurrence of Canine Dirofilariasis in the State of Rio de Janeiro, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 92(1): 47-51, Jan./Feb. 1997
W. F. Hutchinson; R. W. Intermill. Studies on Canine Dirofilariasis. MISSISSIPPI UNIV JACKSON SCHOOL OF MEDICINE
]]>