Depois que o Bento sofreu envenenamento, recebi uma avalanche de perguntas que variavam sobre o mesmo tema: como evitar que meu cão seja envenenado? (para saber mais sobre esse assunto, leia a postagem “Meu cão foi envenenado – Parte I”)
A resposta não é simples. Os assassinos de cães são engenhosos, colocam o veneno em alimentos que os cães adoram e, a não ser nos poucos casos de cães muito treinados, por muito tempo e com bastante consistência, é praticamente impossível convencer o cão de que ele não deve comer aquela “delícia” que está no chão, disponível a ele. Falo isso por experiência própria também: o Bento só come depois que escuta o OK, mas não resistiu ao pedaço de carne moída fresquinha, misturada com raticida, que encontrou no parque.
Teoricamente, a única forma de evitar que nossos cães sejam envenenados seria trancá-los dentro de casa e fechar as janelas. Mas, a pergunta que fica é: vale a pena? Vale a pena fazer do cão um prisioneiro dentro da sua própria casa?
Quem não ficaria louco se ficasse isolado, por dias, por semanas, por meses a fio (vide os Big Brothers da vida…)? Ao cachorro aprisionado, que não sabe ligar a TV, que não assiste Netflix, que não sabe usar o telefone ou a internet, o que lhe resta? Resta-lhe o tédio e o tédio enlouquece.
A reclusão, o isolamento, a falta de contato social e a ausência de estímulos minam a saúde mental – e saúde mental importa. Em decorrência de uma vida empobrecida de estímulos, os cães desenvolvem estresse crônico e o estresse é a base da ansiedade, da depressão, da hiperatividade, de muitos distúrbios compulsivos (lamber compulsivamente de patas, correr atrás do próprio rabo, caçar moscas imaginárias, destruir compulsivamente objetos, vocalizar compulsivamente… etc.) e de muitas flutuações patológicas da imunidade. O que acontece com humanos também se manifesta nos cães domésticos. Por isso, na minha opinião, isolar o cão “resolve” o problema do envenenamento, mas promove outras questões.
Qual é a solução afinal?
A solução é estarmos atentos àquilo que podemos controlar. Não podemos adivinhar se alguém jogou veneno onde nossos cães passeiam, mas podemos estar atentos durante o passeios. Aliás, devemos – e foi isso que salvou o Bento.
Realmente, não enxerguei a bola de carne jogada no meio da grama – o faro do Bento mostrou-se bem mais apurado que a minha visão e ele chegou à carne antes que eu pudesse avistá-la. Se tivesse visto-a, poderia ter me antecipado e evitado tantas coisas… mas, não vi. Porém, percebi o momento em que ele deu uma bocada em alguma coisa que estava na grama e, rapidamente, consegui afastá-lo. Foram frações de segundos. Ele poderia ter comido toda a carne, mas só conseguiu dar uma pequena bocada.
Conhecer o nosso cachorro também ajuda bastante.
Bento é um cachorro que está acostumado a roer ossos “passadinhos”, a beber água de poça da rua, a farejar os xixis alheios na rua (e dar-lhes uma lambidinhas…), a nadar nas lagoas do entorno da cidade – ele não é criado dentro de uma bolha estéril de limpeza, com excesso de banhos e de produtos de higiene. Portanto, quando ele se abala por ter ingerido algum alimento, é preciso dar MUITA importância.
Nós demos muita importância ao fato de ele ter apresentado vômitos 30 minutos após ter ingerido uma carne suspeita no meio do parque.
Por fim, é preciso saber (essa é a parte mais fácil) que um quadro de fortes e repetidos vômitos, que surge de repente, não é nada normal. Se há sangue vivo no vômito, está mais longe ainda da normalidade. Nesse caso, é preciso correr para o hospital mais próximo!
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Sim, eu adoraria presentear vocês com uma fórmula infalível, mágica e simples que evitasse os acidentes por envenenamento. Mas, desconheço-a. Resta-nos estarmos sempre atentos!