Texto sensacional do, não menos sensacional, médico veterinário Artur Vasconcelos.
Todos os nossos buldogues franceses, desde 2008, sempre comeram alimentação natural crua e com ossos, com baixíssima concentração de carboidratos (low carb), uma única vez ao dia, e sempre fizeram o jejum de 36h, 01 (uma) vez por semana. Agora, que o Bento completou 1 ano de idade, iniciamos a alimentação 1x ao dia, também, e, em breve, começaremos a jejuá-lo 01 (uma) vez por semana.
Foi um grande choque para minha família quando decidi que os cães só iriam ser alimentados uma única vez por dia. Minha mãe ficou mesmo chateada e me dizia que tudo aquilo era uma grande tortura. Os petiscos, antes proibidos, acabaram se tornando uma regra, principalmente na hora do almoço. Hoje, alguns anos após a grande mudança, não me arrependo um segundo da decisão, e naturalmente, a “necessidade” dos petiscos diminuiu bastante. Tudo isso virou uma coisa natural, para nós, e para os cães também. Interessante é que em tempos antigos, era exatamente o que meus avós faziam com os cães deles. E, mais interessante ainda, é que se o motivo foi poupar um pouco de tempo na correria do dia a dia, adoto a prática hoje por outros motivos.
Estou dizendo isso porque, mais do que a notícia que seu cão não só pode, como deve, comer ossos crus, a alteração da frequência das refeições é a mudança que mais causa desconforto nos proprietários. Devido ao antropomorfismo em que somos educados, o que é normal (e nem sempre saudável) para nós, acaba sendo imposto aos nossos animais. Quem nunca escutou que comer pequenas porções, várias vezes por dia, é o mais saudável? Pois é, se isso começa a ser contestado hoje para as pessoas, nunca foi uma verdade para os cães. E digo mais, talvez, a diminuição da frequência de refeição seja a melhor mudança no manejo nutricional que você pode fazer para o seu cão.
A grande capacidade gástrica canina é apenas uma dica de que as coisas são diferentes entre humanos e cães. Se considerarmos os hábitos de caça do lobo (e cães selvagens também – dingos), percebe-se que comer muito, como se fosse a última vez, com pouca frequência, é basicamente inerente à espécie. E, de fato, um predador oportunista (e inserido em uma hierarquia rígida) como o lobo deve maximizar seu aporte calórico toda vez que tiver a oportunidade, por que ele não sabe quando vai ser a próxima oportunidade. Um estudo mostrou que, apesar de variável de acordo com sazonalidade, o número de refeições de um lobo não ultrapassa 3-4 vezes por semana.
Mas se isso não te convenceu ainda, comer com pouca frequência pode trazer benefícios metabólicos ao seu animal. O jejum intermitente seria uma forma de “estressar” positivamente o organismo, ou em palavras menos agressivas, de estimular uma melhor eficiência na produção de energia. Explicando melhor, as células, quando o animal está em jejum, ficam sujeitas a valores mais baixos de glicose no sangue, sinalizando que a oferta de alimentos não está tão farta assim. Logo, melhoram a eficiência na utilização de lipídeos e seus derivados na produção de energia. Claro, o objetivo não é “estressar” demais a ponto de levar o corpo ao “modo sobrevivência”, ocasião em que o metabolismo abaixa a ponto de comprometer as funções orgânicas normais (como a produção hormonal). Mas, com esse “estresse bom”, ocorre maximização so que é benéfico: perda de gordura, anabolismo muscular, resistência durante atividades físicas e redução da inflamação. Além dessa vantagem “estressante”, o jejum intermitente melhora a eficiência digestória, possibilita que o sistema gastrointestinal trabalhe cada etapa da digestão de forma isolada e única. E sem esquecer que você tem menos trabalho, porque seu cão elimina menos fezes também.
Agora, se você ainda não está preparado para essa mudança na rotina diária, ou acha que não vai aguentar seu animal pedindo comida durante algum tempo (acredite, isso desaparece), as boas notícias são que o jejum intermitente pode ser realizado de outra forma, não diária, mas semanal, ou mesmo quinzenal. Nesse caso, a recomendação e deixar o peludo sem se alimentar durante 36 horas, ou seja, alimentá-lo 6 dias na semana, ou mesmo 14 dias em uma quinzena.
Por fim, devo ressaltar que só recomendo o jejum para cães alimentados com dietas naturais com baixo conteúdo de carboidratos, e principalmente deve-se evitá-lo para cães que recebem ração, devido ao risco de dilatação e torção gástrica. Outras contra-indicações são filhotes, cadelas em gestação ou lactação, cães enfermos ou convalescentes, ou portadores de algumas doenças crônicas, como o diabetes melitus, hepatopatias e doença renal.
Aproveite e descubra que você também pode acompanhá-lo nessa revolução em saúde!
Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.
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