Texto de Adriana Bonfioli, médica competente, mãe exemplar da Rafaela, de 3 cachorros e de 9 gatos, coordenadora do projeto Convite à Saúde, um portal voltado a divulgação de informações diferenciadas sobre a promoção da saúde, em humanos e em animais.
Recebi este texto dela, dias depois de uma postagem polêmica que fiz no Instagram e agradeço-a pela disponibilidade de me escrever, pela genorisade de compartilhar o seu conhecimento e por basear o seu discurso em evidências científicas.
Entendo que a castração é um procedimento cirúrgico importante, quando seguido de indicações específicas – oportunamente, falarei sobre essas indicações em um outro post. Entretanto, não podemos “fechar os olhos” e acreditar cegamente que a remoção das principais fontes produtoras de estrogênio e testosterona não impactará no equilíbrio da dinâmica metabólica do indivíduo.
Dessa forma, esse texto da Adriana Bonfioli traz uma luz ao assunto. Boa leitura!
Testemunhei uma grande polêmica essa semana a respeito de um post do
@seubuldoguefrances. A Camilli é reconhecida como uma pessoa estudiosa e responsável, com opiniões embasadas em estudos e discutidas com os veterinários com quem trabalha. Porém, nadar contra a corrente é sempre complicado!
Seu post sobre “Castração não previne câncer de mama” recebeu comentários furiosos de algumas pessoas. Eu, que apesar de não ser médica veterinária e sim médica “humana”, fiz o que qualquer pessoa de bom senso faria: fui ler o artigo! E depois dele outro e outro e outro… Por fim, depois de me recuperar do choque, resolvi fazer ABAIXO uma lista das complicações causadas pela castração, principalmente antes dos seis meses.
Existem indicações para a castração? Sem sombra de dúvida. Em momento algum eu ou a Camilli afirmamos que ela deve ser abandonada. Mas existem poucas indicações para a cirurgia que elimina ovários e testículos. Em todo o mundo existe a tendência à ESTERILIZAÇÃO, ou seja, histerectomia sem remoção de ovários nas cadelas e vasectomia em machos. E outras opções ainda mais modernas para esterilizar os animais estão surgindo.
Todos têm que concordar com a nossa opinião? Claro que não. Mas, por favor, quem discorda faça isso de forma científica, não com o argumento de que aprendi isso na faculdade. Existe uma coisa muito importante que se chama MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS”. É notório o fato de que a MAIORIA dos trabalhos científicos não seguem regras corretas para sua realização e/ou análise. Para isso existem as meta-análises, que se baseiam no princípio de que a combinação dos dados de diferentes estudos é mais apropriada para se chegar a conclusões e criar diretrizes do que a observação desses trabalhos isoladamente.
A Medicina está em constante evolução e é nossa obrigação como profissionais da saúde nos manter atualizados. Ou os veterinários continuaram a vacinar anualmente os animais quando múltiplos trabalhos mostram que isto é desnecessário e causa prejuízo à sua saúde? OU os médicos irão continuar a tratar todo colesterol aumentado com sinvastatina, mesmo em pacientes sem risco algum para doença cardiovascular?
Para terminar cito o brilhante
@drjoseneto: “
Independência do senso comum com valorização de tempo e poder crítico em prol de melhores resultados individuais e obviamente junto aos nossos pacientes.”
Novas evidências científicas em relação à castração, em estudo no mundo todo:
– Remover os hormônios em cães imaturos pode resultar
no não fechamento das placas de crescimento e resultar em
padrões de crescimento e estrutura óssea anormais e proporções corporais irregulares. (
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11202221)
– Cães castrados têm
mais reações adversas às vacinas,
fobias de barulho, ansiedade com trovões, ansiedade de separação, comportamento amedrontado e agressão relacionada à comida. (
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24432963 )
– A castração leva a uma
diminuição da função metabólica, diminuição da energia, do desejo de brincar e se exercitar e ganho de peso. Aumento de apetite em fêmeas. (
http://europepmc.org/abstract/med/2326799)
– Em Goldens,
displasia de quadril, roturas do ligamento cruzado, linfosarcoma, hemangiosarcoma e mastocitoma são significativamente mais frequentes em ambos os sexos que foram castrados antes ou depois de 1 ano de idade quando comparados com cães inteiros. 10% dos machos castrados precocemente foram diagnosticados com linfoma, 3 vezes mais frequentemente que os cães inteiros. Hemangiosarcoma em fêmeas castradas tardiamente foi 4 vezes mais frequente que em animais intactos. Aumento da incidência de mastocitoma. (
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0102241#pone-0102241-g002)
– Estudo Vizsla: 2.500 cães castrados em qualquer idade demonstraram
risco aumentado para todos os tipos de câncer (mastocitoma, linfoma, HAS) quando comparados a cães inteiros. Quanto mais precoce a castração, mais cedo o diagnóstico de câncer. Cães castrados antes dos 6 meses de idade apresentaram maior frequência de
alterações de comportamento incluindo ansiedade de separacão, fobia de barulho, timidez, excitabilidade, diurese submissa, hiperatividade e agressão por medo. Todos os animais castrados antes dos 6 meses apresentaram maior risco de ansiedade por trovões comparados aos animais inteiros. (
http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.244.3.309http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.244.3.309)