Pergunta por e-mail:
Para evitar que os filhotes adquiram o Demodex canis devo impedir que entrem em contato com a cadela e devo alimentá-los com leite artificial?
Não! O colostro, leite produzido nas primeiras 24 horas pós-parto, é riquíssimo em anticorpos que promoverão imunidade ao filhote nos primeiros 2 meses de vida, contra doenças importantes, como cinomose e parvovirose.
Quando ocorrem estados de imunodeficiência geral do animal, por motivos variados, e conseqüentemente uma falha nos mecanismos de defesa próprios da derme, a pele do cão torna-se ecologicamente favorável à reprodução e ao crescimento do Demodex canis. Os parasitas “agarram” essa oportunidade para colonizar os folículos pilosos, elevando sua população em milhares de ácaros. Há autores que admitem que o “ataque dos ácaros” se instala quando o cão não está bem alimentado ou apresenta deficiências nutricionais. Outras doenças, principalmente a cinomose, predispõem aos cães a sarna demodécica. Banhos freqüentes com sabões alcalinos tornam a pele suscetível ao “ataque dos ácaros”. Ainda de acordo com os autores, dentre os fatores considerados predisponentes – que afetam a imunidade – destacam-se o estresse, o cio, a endoparasitose e a doença debilitante. O demodex sobrevive alimentando-se do conteúdo das células epiteliais e sebo do folículo piloso.
De acordo com pesquisadores, a presença de grandes quantidades de ácaros causa dano e afrouxamento das hastes dos pelos, terminando com a queda dos mesmos, desde o folículo, resultando em quadro de alopecia. A patogenia decorre da presença de demodex nos folículos pilosos e glândulas sebáceas ocasionando sua dilatação, permitindo assim a invasão bacteriana. Doenças fúngicas também podem ocorrer como infecção secundária.
A proliferação exacerbada do Demodex canis, resultando em um quadro claro de problemas dermatológicos, é conhecida como sarna demodécica. Outros sinônimos para esta patologia são: demodicose, sarna negra, sarna vermelha e sarna folicular.
A sarna demodécica pode ser classificada de acordo com a sua distribuição corpórea (localizada ou generalizada) e de acordo com a faixa etária à época das manifestações (juvenil ou adulta). Acredita-se que o curso, o prognóstico e, inclusive, as causas dos dois tipos são amplamente diferentes. Para fazer o diagnóstico da doença é preciso realizar o exame de raspado da lesão. (leia-se: impossível fechar diagnóstico no “olhômetro”)
O tratamento alopático consiste em tratar as infecções secundárias e eliminar a infestação do demodex através de terapia específica.
O Elo Perdido Ninguém tem respostas prontas sobre a fisiopatologia desta doença, temos muitas hipóteses e, por isso, essa doença é tão controversa.
Eu também tenho muitas dúvidas e questionamentos que me incitam a querer saber mais sobre ela.
Questão que me intriga: [1]
O pesquisador Muller, em 1985, afirmou que a demodicose generalizada é a manifestação de um defeito hereditário específico do sistema de células T, para Demodex canis, em que é permitido ao ácaro se multiplicar em grande número, e induzir uma substância humoral (complexo antígeno-anticorpo do ácaro?) que provoca generalizada supressão de células T (imunodeficiência celular-mediada).
Entretanto, algumas técnicas de pesquisa, recentemente, empregadas em linfócitos de cães com demodicose sugeriram que o fator imunossupressor, condicionante da demodicose, é uma imunoglobulina ou um complexo antígeno-anticorpo. Esses achados de pesquisa levam a concluir que a demodicose generalizada crônica faz-se acompanha por um estado de severa supressão de células T. Segundo a pesquisa, tal supressão desaparece com a erradicação dos ácaros, concluindo que a imunodeficiência observada nos animais doentes é secundária à enfermidade e não a causa da mesma.
Ademais, não é possível afirmar que uma doença é genética, sem demonstrar a manifestação da mesma em sucessivas gerações familiares ou demonstrar o(s) gene(s) responsáveis pela mesma. É preciso que isso seja comprovado através de ensaios clínicos que relacionem causa-efeito.
Questão que me intriga: [2]
A sarna demodécica é uma doença de ampla ocorrência na clínica veterinária, está presente nos quatro cantos do mundo, ocorre em cães de raça e multirraças (srd), não tem predileção por cor de pelagem.
1) O indivíduo nasce com ela (síndrome de Down, por exemplo) OU
2) O indivíduo desenvolve a doença tardiamente (câncer de mama, doenças coronarianas, síndrome de Huntington, por exemplo). Entretanto, uma vez instaladas, as doenças não regridem – não ocorre “desligamento” genético. Com a sarna demodécica juvenil, o oposto ocorre. Ela manifesta-se na infância e desaparece tão logo o cão torna-se imunologicamente competente. Este não é um padrão de doença genética. A infância é um período de flutuação de imunidade fisiológico. Além disso, as vacinas contra cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa, parainfluenza, coronavirose, leptospirose (V8 ou V10, em 3 doses) e raiva são um verdadeiro nocaute no sistema imune. Há ainda quem precise fazer as 3 doses da vacina contra leishmaniose e quem faça as vacinas contra giárdia e tosse dos canis!
Já imaginaram que pancada no sistema imunológico, em apenas 7 meses de vida? Vacinas são necessárias, mas não são isentas de efeitos colaterais.
Cães que apresentam sarna demodécica na idade adulta, ou estão bastante idosos – já com imunidade comprometida – ou apresentam alguma doença de base, que deve ser pesquisada, neste caso a sarna demodécica é uma doença secundária.
De fato, cães com câncer, com leishmaniose, diabéticos ou que apresentem outras doenças crônicas, não raro apresentam sarna demodécica. Provavelmente, a imunossupressão provocada pela doença crônica favorece a proliferação do ácaro na pele.
As doenças genéticas, ou com componente genético envolvido, possuem um curso bastante previsível depois que se manifestam no indivíduo.
A diabete pode ser controlada, mas não pode ser curada. O indivíduo deverá manter restrição dietética permanentemente e, muitas vezes, reposição de insulina.
A hipercolesteremia pode ser controlada através de dieta controlada e, talvez, medicamentos. Mas, uma vez que o indivíduo “perdeu o controle” sobre suas células gordurosas, o prejuízo não pode ser revertido.
A displasia coxo-femural em cães pode até ser assintomática, mas seu destino é ser progressivamente degenerativa.
A catarata juvenil, uma vez instalada, não tem cura. O cão perde a visão. É uma incógnita, para mim, descreverem a sarna demodécica como doença genética apesar de ela não seguir nenhum padrão de doença genética em sua manifestação.
Este é o pug Bóris, com 5 meses de idade, à época do diagnóstico da sarna demodécica, já demonstrando perda de pelo (alopécia) na face (foto 1), infecções secundárias com presença de pústulas na face (fotos 2 e 4) e na virilha (foto 3).
Com 10 semanas de tratamento alopático, seu quadro clínico, ainda pior, era assim:
Palavras da proprietária, Carolina Agacci (humana de estimação da frenchie Bella também):
Tratamos com vitaminas, banhos, butox bem diluido, imunoestimuladores… ele apresentava alguma melhora, mas logo a doença voltava com força duplicada. Isso porque não queríamos usar a ivermectina por ser tóxica. E também usamos tooooooodos os antibióticos do mundo, e ele fez resistência a todos eles. Vou te dizer que a situação dele ficou bem pior do que qualquer foto que você possa ver nesses e-mails. A pele dele era pus puro, em carne viva, sangrando ao menor toque. Mas não tive coragem de tirar fotos dessa fase. Foi muito sofrimento. Aí resolvemos apelar pra Ivermectina e antibióticos injetáveis. Foi o que deu jeito… Mas aí causou a insuficiência renal.
Este puguito não tem uma história de vida fácil. Foi doado para a Carol quando ainda não conseguia nem andar e mal tinha aberto os olhos – suspeito que não tinha nem 25 dias de vida. Mas, essa não é a pior parte da história: Bóris já havia passado pelas mãos de uma outra pessoa, que o comprou do “criador”, mas achou “muito difícil” lidar com o filhote. Desde então, o histórico de doenças deste cãozinho é enorme, incluindo aí questões comportamentais atípicas. Até os 10 meses de vida ele não havia passado um único dia sem precisar de medicação. A internação por insuficiência renal foi outro grande susto, que, definitivamente, culminou com a decisão por abandonar a alopatia e aderir ao tratamento homeopático para o Bóris.
>>> É interessante citar que o pug Bóris, citado neste texto, teve melhora enorme do seu quadro depois que sua alimentação mudou da ração para alimentação natural.
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