Olá Dr.!
Eu sou um buldogue francês!
A menos que seja extremamente sortudo, você não teve nenhum outro paciente como eu. Se este for o caso, por favor, permita-me alertá-lo a respeito de algumas necessidades especiais dos Frenchies – como nossos amigos nos chamam.
Nossas cotas diárias requisitadas de amor e companhia são muito altas, entretanto nossas demandas de manejo são simples. O carinho mantém nosso pelo brilhante e elogios nos mantêm felizes. O melhor tratamento para Frenchies é “ACA” (amor-carinho-atenção). Mas, nós temos alta incidência de alguns problemas estruturais que acompanham nossa cara-achatada, corpo curto e quadrado.
Tal como acontece com outras raças braquicefálicas, nossas vias aéreas são muito comprometidas. Nós sofremos superaquecimento muito facilmente, podemos apresentar problemas como palato mole alongado que deverá ser encurtado cirurgicamente e qualquer coisa que provoque edema de mucosas na boca ou faringe (trauma, picada de inseto, amigdalite, etc.) pode causar uma emergência respiratória. Às vezes, nossas narinas podem apresentar-se estreitas, por isso, roncamos mais, devido à respiração bucal. Há sugestões que estamos mais propensos a apresentar formatos atípicos da tireóide e da adenohipófise. Se as alterações morfológicas causam problemas funcionais glandulares, é incerto; mas vale a pena considerar questões endocrinológicas.
Anestesia, obviamente, é uma constante preocupação. A utilização de acepromazina é extremamente contra-indicada e tem provocado a morte de muitos frenchies, mesmo em subdoses.
Graças a nossa atitude descontraída, muitos procedimentos que exigem a anestesia geral em outras raças mais excitáveis, talvez não sejam necessários em nós. Quando a anestesia geral é necessária, há quem diga que Frenchies são difíceis de entubar, mais ainda que Bostons Terriers. Primeiro, nota-se que nossas gargantas tendem a ser muito curtas (podem ainda ser estreitas). O tubo endotraqueal deve ser curto o suficiente para não terminar em um brônquio e provocar ventilação insuficiente. Além disso, no período pós-operatório temos que ser muito bem assistidos, de perto, após a extubação, até que estejamos aptos a levantar e andar, pois nossa língua – grande e volumosa – pode facilmente relaxar e obstruir a passagem de ar. E qualquer inchaço na faringe ou laringe, um perigo sempre presente com intubação, é extremamente grave na nossa raça. Importante você saber que a nossa natureza é geralmente calma, isso significa que as doses do sedativo na anestesia podem ser generosamente menores que em cães de mesmo porte, como por, exemplo, um Fox Terrier. Ótimo, pois estamos naquela lista de cães que sofre de depressão anestésica mais facilmente.
Provavelmente, nosso mais sério e grave problema anatômico (exceto vias respiratórias) refere-se as nossas alterações condrodistróficas, que nos forneceu essa forma ímpar. Nosso corpo encurtado acabou por nos predispor a alta incidência de más-formações e degeneração de discos vertebrais. A maioria dessas más-formações ocorre entre T9 e T11, podem envolver várias vértebras ou apenas uma. Dependendo da alteração vertebral, pode haver desenvolvimento de escoliose, cifose e, estas, podem produzir alterações secundárias na caixa torácica. Degeneração prematura do disco intervertebral, vista em cães de 3 a 5 anos, ocorre mais frequentemente entre C2-C4 e T11-T12; degeneração discal como uma conseqüência da idade, ocorre mais frequentemente na região cervical. Se você observar qualquer alteração vertebral, discos calcificados ou estreitamento dos espaços discais através do RX ou detectar deformidades ósseas no exame clínico, por favor, instrua meu dono sobre a melhor maneira de me proteger e quais são os sinais neurológicos a observar em caso de problemas. Aliás, sempre instrua meu dono sobre os primeiros sinais neurológicos das lesões medulares – mesmo sem grandes alterações detectáveis, nos exames complementares, podemos apresentar problemas. Muitos Frenchies estão felizes e saudáveis hoje porque seus donos procuraram rapidamente por ajuda adequada ao primeiro sinal de problema, antes que a medula espinhal pudesse ser danificada permanentemente.
Como é o caso com Bostons e Bulldogs Ingleses, muitas vezes temos dificuldades de parto. Embora algumas Frenchies consigam dar à luz de parto normal, a combinação da cabeça grande e pelve estreita mais a inércia uterina que parece comum na raça, muitas vezes requer cesariana. (Considerando o risco da anestesia, isso ajuda a explicar por que há tão poucos de nós ao redor.)
A piometra parece nos atormentar com maior frequência que outras raças também. Alguns acreditam que seja a inclinação ímpar do trato reprodutivo feminino, quando comparado às outras raças, de maneira a não drenar qualquer fluido adequadamente. Independente da causa, este é um problema real. A impactação das glândulas anais também nos aflige (especialmente se a torção da cauda ocorre acentuadamente para um lado, comprimindo ducto). Podemos sofrer da maioria dos outros males caninos habituais. Frenchies de pelagem clara tendem a ter mais problemas de pele do que aqueles de pelagem mais escura. Isto é particularmente verdadeiro em climas quentes e úmidos, onde toda a variedade de fungos e bactérias tende a prosperar. A displasia coxofemoral pode ocorrer na raça, geralmente, assintomática.
NOTA:
Alguns criadores estão constantemente trabalhando para o melhoramento da saúde e do temperamento da raça. Todos os seus feed-backs aos criadores são muito importantes pois os ajudam a saber com seus filhotes estão se desenvolvendo quando saem de suas casas. Gostaríamos de sua ajuda a este respeito. Se você detectar qualquer problema em um paciente Frenchie, que você acreditar ser de etiologia genética, por favor fale com o proprietário e/ou criador do cão para que seja evitada a propagação de genes nocivos através da raça. O nosso conjunto de genes é tão pequeno que um gene recessivo de reprodutor famoso poderia se espalhar rapidamente, e a detecção precoce requer a ajuda de nossos veterinários. Embora tenha havido casos de distúrbios da coagulação em Frenchies, nós ainda não tivemos problemas como a catarata juvenil e intoxicação de cobre que devastaram outras raças, e queremos mantê-lo dessa maneira.
Nós, Frenchies, estamos muito orgulhosos, estamos crescendo em popularidade. Agradecemos todas novas observações ou informações que possam nos dar sobre a nossa raça para ajudar os nossos criadores e proprietários de nos manter bem e feliz, tanto como raça e como indivíduos.
E, finalmente, quando o tempo vier… por causa da idade, lesão ou doença… quando minha vida tornar-se mais peso que benção, por favor, ajude meu dono e amigo a aceitar a mais amorosa e bondosa das decisões. Diga-lhe que não cante nenhuma canção triste para mim, apenas ajude-o a lembrar que minha vida, curta ou longa, foi invejável.
Eu era um buldogue francês…

(Publicado na revista French Bullytin, Vol 6, No. 4, 1988.)]]>

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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