Em nosso corpo, para cada célula humana há 10 (dez) bactérias. Ter essa informação me fez pensar que somos, nada mais, que culturas bacterianas ambulantes! A lógica me diz que essa proporção não deve ser muito diferente entre os outros animais, afinal bactérias povoam este planeta desde os tempos mais remotos da sua existência e todos os seres vivos evoluíram com e na presença delas.

Bactérias em formato de bastonete, conhecidas como bacilos.
Os lactobacilos (do iogurte) são assim!
As bactérias são tão importantes que simplesmente não haveria vida sem elas. Criamos uma relação simbiótica inseparável. 
Nos intestinos, elas favorecem a digestão de fibras vegetais, transformando resíduos complexos, que normalmente não são facilmente digeridos, em substâncias simples e nutritivas. No sistema digestivo, também participam da geração de compostos químicos essenciais à vida, como as vitaminas D, K e B12. Uma “floresta” de bactérias vive na nossa pele (pelo menos 200 espécies diferentes), se alimentando dos recursos oferecidos e “desencorajando” bactérias indesejáveis.

Todas essas bactérias que carregamos conosco são responsáveis por modular nosso sistema imunológico, sendo atuantes no seu equilíbrio.
Coexistir com bactérias, e se beneficiar delas, não é uma exclusividade do reino animal. Sabe-se que em um único grama de solo fértil, agrícola, é possível encontrar 2,5 bilhões de células bacterianas. Sem elas, não haveria a fixação de importantes nutrientes no solo e não haveria o verde.
Apesar da existência deste planeta ser impossível sem as bactérias, somos completamente educados para a bacteriofobia. Programas de TV, jornais, revistas e outras mídias sociais estão, a todo tempo, enaltecendo o poder dos produtos antibacterianos – shampoos, sabonetes, desinfetantes, etc., como se fosse realmente desejável (e possível) viver longe delas.
Acredito que a fobia a bactérias deve ter tido seu início quando Pasteur descobriu a existência de micróbios que provocavam a pneumonia, no final do século XIX. No início do século XX, o descobrimento da penicilina, antibiótico que salvou muitas vidas, reiterou ainda mais a “importância” de combater essas criaturas não enxergáveis.
Mas por que motivo estou defendendo esses seres microscópicos em um blog sofre frenchies?
Porque, com uma frequência absurda, leitores relatam as maravilhas dos shampoos bactericidas que usam habitualmente em seus cães – que também destroem a microflora saudável da pele tornando-a mais suscetível a infecções. Porque, sem a hesitação de seus humanos, muitos cães fazem uso constante de antibióticos, por motivos pouco justificáveis. Um exemplo é a utilização de produtos que contêm o antibiótico Tilosina, para diminuir as manchas de lágrimas
Porque, volta e meia, leitores relatam seus receios de oferecer carne crua para seus cães porque esses alimentos são contaminados por bactérias. Não vou entrar no mérito da envenenamento crônico e silencioso que as rações industrializadas provocam, pela contaminação por fungos. Mas gostaria que você, leitor, refletisse sobre a sua própria alimentação, com o que lhe direi a seguir:
Um alimento é considerado estragado ou podre depois que sofreu a ação e a decomposição bacterianas (e/ou de fungos). Entretanto, você já observou quantos são os alimentos presentes em nosso dia a dia que sofrem decomposição para se tornarem a delícia que o são? Cito alguns:
  • queijo = produto do leite apodrecido;
  • iogurte = produto do leite apodrecido;
  • chocolate = produto do cacau apodrecido
  • vinagre = produto da uva apodrecida;
  • molho shoyu = produto da soja apodrecida.

Ainda podemos acrescentar os pães, as conservas, o catchup, o presunto cru, a pimenta, o salame, praticamente todas as bebidas alcoólicas (até as destiladas passam pelo processo de fermentação), o kefir, o óleo de fígado de bacalhau – um terço dos alimentos que consumimos é fermentado por bactérias (ou apodrecido). Pagamos muito caro por fedorentos queijos franceses, sem saber que o odor desses queijos é provocado por bactérias da mesma família das bactérias que habitam nossos pés e axilas. Não é à toa que os franceses, maravilhados com o odor desses queijos, referem-se a eles como pied de Dieu (pé de Deus) – a própria glorificação do chulé! Outra curiosidade interessante é que um dos grãos de café mais cobiçados e  caros do mundo é aquele que foi fermentado no sistema digestivo do Civeta – e eliminado pelas fezes. No Brasil, temos a versão dele, o Jacu Bird Café. Fermentar os alimentos antes de consumi-los é uma prática remota, provavelmente tão antiga quanto o neolítico. Na Europa, repolhos crus colhidos no outono eram preparados e armazenados em potes, debaixo da terra, para que pudessem alimentar as pessoas no inverno. O produto fermentado desse repolho, chamado de sauerkraut, é prato típico de algumas culturas. O consumo de alimentos fermentados é popular em todo o mundo.  Há alimentos que parecem ser impensáveis de ser consumidos, por estarem podres, mas o nojo é apenas um traço instintivo ao que perturba nosso senso de paladar e que sofre uma grande influência cultural . Os suecos, por exemplo, alimentam-se de surströmming, um prato típico à base de peixes podres. Na Islãndia, o hákarl é um prato feito com carne podre de tubarão. Nós, brasileiros, também temos as nossas esquisitices gastronômicas – imaginem o que estrangeiros pensam quando descobrem que o frango ao molho pardo é feito com o sangue da galinha?
Não estou encorajando ninguém a comer alimentos decompostos da lixeira! Mas, é preciso removermos esse véu que obscurece nosso entendimento sobre esses seres maravilhosos, chamados bactérias.
Por inúmeras vezes, flagrei meus cães escondendo ossos crus e meaty bones no quintal e se alimentando deles dias mais tarde. Não tiveram sequer uma diarreia. Aliás, enterrar alimentos para ingeri-los a posteriori é uma prática atávica dos canídeos que vivem na natureza – provavelmente, existe algum benefício no alimento fermentado que ainda não conhecemos.
Portanto, não há motivos para temer a maioria das bactérias, precisamos delas para termos saúde e elas tornam o que comemos muito mais gostoso. Os cães igualmente se beneficiam delas. Não tenham medo de alimentar seus cães com alimentos crus, desde que sejam tomados alguns cuidados básicos. Usem antibióticos apenas quando necessário, porque esses medicamentos destroem o microbioma bacteriano do bem que protege seu cão. Não usem sabonetes e shampoos bactericidas, se não houver indicação precisa para isso. A maioria das bactérias é amiga, apenas uma parte delas produz doenças.
http://www.zazzle.com.br/

► Indicação de documentários sobre esse assunto para quem tem Netflix:
  • Cooked (episódio 4): documentário sensacional, feito pelo jornalista e expert em alimentação, Michael Pollan;
  • The Mind of a Chef (episódio 5); David Chang mostra culturas que se alimentam de alimentos podres.
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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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