Por muitos anos, fui defensora árdua da castração para todos os cães, desde a mais tenra idade deles. É inegável que castrar é a melhor estratégia, em saúde pública, para o controle populacional de cães e para a prevenção de agravos de saúde, relacionados à população canina. Aliás, sou totalmente favorável a castração de cães de rua, independentemente da idade, por questões de saúde pública.
Entretanto, quando falamos dos nossos cães – cães que têm casa, que têm acesso a assistência veterinária de qualidade, que não vivem soltos e que não dão escapulidas na rua quando têm vontade – será que a castração deve ser indicada deliberadamente? Penso que não
Castrar é um procedimento cirúrgico e todos os procedimentos cirúrgicos têm indicações específicas. Aliás, você procuraria um médico cirurgião, com o intuito de remover preventivamente o seu apêndice? (o apêndice é um órgão, considerado vestigial, que não exerce função em nós – só serve para “dar apendicite”)

Mas, é preciso deixar claro: a opção de não castrar não é um incentivo a “precisa cruzar”. Um cão inteiro (macho ou fêmea) pode viver perfeitamente bem, ter qualidade de vida, sem precisar se reproduzir. E no caso dos nossos cães, que vivem cercados pelas paredes do apartamento ou pelos muros da casa, é perfeitamente possível aplicar a não castração, sem riscos para o aumento da população canina.

Já um fiz live no Facebook sobre esse tema, para assisti-la aqui:

E, também, pode ler este texto maravilhoso que o médico veterinário Glauber Leal escreveu. Para ler o texto original, clique aqui.

Relutei muito em fazer essa postagem, pois esse é um assunto que atrai fanáticos. Mas não acho certo que a informação correta seja omitida de uma maneira que parece subestimar a inteligência das pessoas. Tenho grande carinho pelas pessoas que me seguem aqui e concordo com meu amigo veterinário @prnobreogx que devemos informar as pessoas e não impor a nossa preferência.


Sempre ajudei animais de rua e sei de suas vidas de sofrimento devido à maus tratos e abandonos. E acho que no momento atual de evolução do humano (de pouca evolução no caso), a única “solução” para tal problema seria a castração dos animais que estejam envolvidos diretamente ou indiretamente através de suas crias, com possíveis situações de maus tratos e/ou abandonos por conta de seus humanos poucos evoluídos.


Porém me incomoda muito, muito, muito, que alguns colegas e que várias outras pessoas divulguem que a castração é algo 100% maravilhoso e que só trás benefícios. Eu mesmo já falei isso no passado por conta de desinformação, e acredito que quem ainda fala isso não o faz por mal. Mas queria ajudar a esclarecer.


Por conta do tamanho do texto que irá esclarecer alguns pontos, eu irei postar a descrição dos riscos e benefícios das castrações em um dos comentários abaixo. Aviso antes que esses dados a seguir consideram APENAS ASPECTOS RELACIONADOS A SAÚDE E NÃO CONSIDERAM OS BENEFÍCIOS DO CONTROLE POPULACIONAL (o qual é um aspecto louvável e tem meu total apoio). E que todas essas informações vieram de mais de 50 artigos científicos. Quem quiser as referências dos artigos é só entrar em contato comigo via Direct e eu envio.


Adiantando, o que concluiremos é que aparentemente não há como afirmar que todos os cães machos ou fêmeas, devam ser castrados, e fazer isso ao meu ver é tão errado quanto o seu oposto. Portanto, CADA SITUAÇÃO DEVE SER AVALIADA INDIVIDUALMENTE. Eu particularmente ainda recomendo a castração para alguns casos, porém para muitos outros eu desaconselho.


A conclusão principal: ainda entendemos pouquíssimo sobre os efeitos das castrações sobre o corpo dos cães.
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Segue abaixo nos comentários a descrição dos riscos e benefícios da castração sobre a saúde dos cães:


No lado positivo, castrar cães machos:
– Elimina o pequeno risco (probabilidade <1%) de desenvolver câncer testicular
– Reduz o risco de desordens não associados ao câncer na próstata
– Reduz o risco de fístulas perianais
– Talvez possa reduzir o risco de diabetes (dados inconclusivos)


No lado negativo, castrar cães machos:
– Se feita antes do primeiro ano de vida, aumenta significativamente o risco de osteossarcoma (câncer ósseo), um tipo de câncer comum em cães de porte médio/grande e porte grande, com um prognóstico ruim.
– Aumenta o risco de hemangiossarcoma cardíaco em cerca de 1,6 vezes
– Triplica o risco de hipotireoidismo
– Triplica o risco de disfunção cognitiva progressiva geriátrica
– Triplica o risco de obesidade
– Quadruplica o pequeno risco (<0,6%) de desenvolver câncer de próstata 
– Dobra o pequeno risco (<1%) de câncer do trato urinário
– Aumenta o risco de problemas ortopédicos
– Aumenta o risco de reações adversas a vacinas


No lado positivo, castrar cadelas:
– Se feita antes de 2,5 anos de idade, reduz significativamente o risco de tumores de mama, o tipo mais comum de tumores malignos nas cadelas – Elimina o risco de Piometra, que do contrário afetaria 23% das cadelas não castradas, e chega a matar 1% de tais cadelas não castradas
– Reduz o risco de fístulas perianais
– Elimina o pequeno risco (= 0,5%) de tumores uterinos e ovarianos


No lado negativo, castrar cadelas:
– Se feita antes de um ano de idade, aumenta significativamente o risco de osteossarcoma (câncer ósseo)
– Aumenta o risco de hemangiossarcoma esplênico em cerca de 2,2 vezes e de hemangiossarcoma cardíaco em cerca de 5 vezes ou mais
– Triplica o risco de hipotireoidismo
– Aumenta as chances de desenvolver obesidade em cerca de 1,6 a 2 vezes
– Pode causar incontinência urinária em 4 a 20% das cadelas
– Aumenta o risco de infecções persistentes ou recorrentes do trato urinário em cerca de 3 a 4 vezes
– Em cadelas castradas antes da puberdade aumenta o risco de hipoplasia de vulva, vaginite e dermatite de dobra vaginal
– Duplica o pequeno risco (<1%) de tumores do trato urinário
– Aumenta o risco de problemas ortopédicos
– Aumenta o risco de reações vacinais

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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