recalls de ração para pets,  nos EUA, ocorrem por conta da presença da bactéria salmonela, presente em quantidade superior à permitida. Entretanto, como já foi dito nesse post, a salmonela não é um risco para a maioria dos cães, estando presente na grama, no bumbum dos outros cães (que os cães cheiram sempre como atitude de reconhecimento), na água do vaso sanitário que muitos pets bebem sem que seus humanos de estimação possam sonhar… Mas, um perigosissímo vilão contaminante das rações se chama MICOTOXINA – toxina produzida pelos fungos. Quem nunca visualizou o crescimento de bolores no pão velho ou até mesmo em algo esquecido dentro da geladeira? O bolôr é o crescimento de uma família enorme de fungos e, acreditem, combater a multiplicação destes microorganismo não é fácil – eles estão em toda parte.
Temperatura adequada, um pouco de umidade e alimento (adoram grãos) é tudo que eles precisam para prosperar e fazer muitos estragos.  A tentativa de combater o crescimento dos fungos aumentou a produção de publicações científicas, sobre o assunto, em 03 (três) vezes na última década. As empresas relacionadas à produção de grãos, certamente, são grandes interessadas neste controle. Para melhor ilustrar a magnitude do problema “micotoxinas”, um artigo da revista New Scientist, afirma que 25% dos grãos produzidos no mundo está contaminado por micotoxinas.
Mas, qual a preocupação referente às rações? Todas as rações disponíveis no mercado brasileiro, até a data de hoje, possuem entre 50-60% de grãos em sua fórmula, sendo a maioria composta de milho, arroz, trigo e/ou soja – que estão suscetíveis à contaminação por fungos e, consequentemente, contaminadas por micotoxinas. Embora não se tenham dados quantitativos sobre a absorção de micotoxinas pelo tubo digestivo, sua absorção em cães parece ser completa desde pequenas doses junto com os alimentos. Pode-se observar que os piores efeitos das micotoxinas tendem a ser os crônicos, de difícil associação com o consumo de alimentos contaminados. Os principais efeitos registrados são lesões hepáticas, lesões renais e depressão do sistema imune. Mutagenicidade e teratogenicidade também são efeitos relacionados às micotoxinas. No Brasil, o limite máximo tolerado para aflatoxinas (um tipo de micotoxina) em qualquer matéria prima a ser utilizada diretamente ou como ingrediente para rações destinadas ao consumo animal é de 50 ppb. (ppb = partes por bilhão)
Em alimentos para consumo humano os limites máximos admissíveis de concentração de aflatoxinas (um tipo de micotoxina) são:

  • leite fluido = 0,5 ppb;
  • milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído), farinhas ou sêmola de milho, amendoim em casca e descascado, cru ou torrado, pastas ou manteiga de amendoim = (-)20,0 ppb.

O nível total de aflatoxinas permitido, nos Estados Unidos, em alimentos para consumo humano ou em rações para vacas leiteiras é de 20 ppb.
E para você que se questiona Como a ração pode ser mantida quase intacta fora da geladeira?, a resposta vem do trabalho Aflatoxinas em rações destinadas a cães, gatos e pássaros – uma revisão:
Um estudo conduzido no Brasil por MAIA & SIQUEIRA (2002), analisou a presença de aflatoxinas em rações para cães e gatos, e o grau de contaminação de rações para pássaros. Os resultados mostraram que de 100 amostras analisadas (45 para cães, 25 para gatos e 30 para pássaros), 12% estavam contaminadas com algum tipo de aflatoxina (1 para gatos, 3 para cães e 8 para pássaros).


Os resultados de aflatoxinas nas rações foram de 15 a 374 mg/kg (aflatoxinas totais) e 62,5% das rações de pássaros contaminadas estavam acima do Limite Máximo Permitido pelo Ministério da Agricultura (BRASIL, 2007). Foi também observado que o uso de fungicidas, como o sulfato de cobre, usado como ingrediente da formulação da maioria das rações de cães e gatos, pode estar contribuindo para evitar o crescimento do fungo e a produção de micotoxinas. As rações de pássaros não contêm este fungicida.
Se seu cão come ração é importante que você esteja ciente que o fabricante nem sempre fala de todos os componentes da fórmula.
Bem… pelo menos, nunca li MICOTOXINA no rótulo. Se seu cão come ração, lembre-se que é importante manter o pacote bem fechado e em local fresco, para diminuir o crescimento dos fungos. Os fungos já estão lá… não há como evitar isso, mas você pode evitar criar um ambiente propício para que eles se reproduzam e produzam mais micotoxinas. Jamais, em tempo algum, compre ração a granel. A exposição, o nosso clima, a umidade favorecem a proliferação de fungos e contaminação da ração.

Cães conseguem detectar uma colher de açúcar diluída em 1 milhão de galões de agua (o equivalente a duas piscinas olímpicas cheias). Você acredita mesmo que seu au-au não farejaria uma ração contaminada?
Questione-se! Seu cão recusa-se a comer ração? Por que será?

Referências bibliográficas:
AFLATOXINAS EM RAÇÕES DESTINADAS A CÃES, GATOS E PÁSSAROS – UMA REVISÃO. Patrícia Penido Maia, Maria Elisa Pereira Bastos de Siqueira. Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.14, n.1, p. 235-257. 2007 FUNGOS E MICOTOXINAS EM RAÇÕES PETS. Janio M. Santurio. Laboratório de Pesquisas Micológicas (LAPEMI) – Universidade Federal de Santa Maria. Mycotoxin in grain. MILLER, J. D.; TRENHOLM. H.Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo vol.36 no.5 São Paulo Sept./Oct. 1994 MYCOTOXIN RESEARCH IN BRAZIL: THE LAST DECADE IN REVIEW. Delia B. Rodríguez-Amaya; Myrna Sabino. Braz. J. Microbiol. vol.33 no.1 São Paulo Jan. 2002 ]]>

 

 

 

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CAMILLI CHAMONE

Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.

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