Eu estava escrevendo um artigo sobre criação de cães, genética e doenças relacionadas a cada raça canina, quando encontrei THE CANINE DIVERSITY PROJECT.
A população humana carrega, pelo menos, 2500 alelos deletérios. A maioria deles é distribuída de maneira igual na população. Para a totalidade da população de Canis familiaris, a situação é bem similar. Estima-se que cada indivíduo carrega 3 ou 4 alelos letais, que os mataria em situação de homozigose. Como eles são recessivos, eles não causam nenhum problema. Entretanto, considere uma subpopulação de 10 indivíduos, que é formada a partir de uma população muito maior. Então, esses indivíduos não carregarão a vasta maioria indesejável dos alelos recessivos deletérios, encontrados na maioria da população – o pouco que eles carregam será promovido rapidamente a alelos raros (0,1% ou menos) para, no mínimo, 5% de nossa amostra (ou mais, geralmente, ½N, onde N é o número de fundadores). Como a deriva genética (randômica) tem um enorme impacto na população, essa precisa crescer rapidamente, pelo menos muitas centenas de cruzamentos, para minimizar a perda de alelos valiosos. Durante este tempo, a seleção deve ser cautelosa. Enquanto é verdade que “fixar o tipo” é um dos objetivos dos criadores de cães de raça pura, uma seleção muito rigorosa, durante as primeiras gerações, aumenta a possibilidade de perda acidental de alelos importantes. Dálmatas, por exemplo, são deficientes em uma enzima necessária para a correção do metabolismo do ácido úrico. O alelo mutante parece estar ligado ao alelo que produz as marcações pretas sobre a pelagem branca e, aparentemente, foi, inadvertidamente, fixado quando os primeiros criadores da raça começaram a trabalhar na pelagem destes cães. (Nash, 1990) Reconhecendo mutações
Então, em uma freqüência alélica de 5%, indivíduos afetados devem ser de apenas 0,25% da população e deve-se evitar que estes números avancem. Entretanto, uma mutação ocorrendo a esta freqüência pode ser reconhecida? Se estivermos falando sobre raças que possuem médias de ninhadas de 4 filhotes, então, estamos apenas observando 1 ninhada em outras muitas, com um filhote afetado. Se não há outros casos conhecidos, o criador pode simplesmente acreditar em “uma dessas coisas que acontecem”… mas, muitas vezes, não é! Em raças com ninhadas enormes, com 2 ou mais filhotes afetados ocorrendo na mesma ninhada. Mas, mesmo nestes casos, a ausência de troca de informação entre criadores e a falta de conhecimento em genética podem resultar em dificuldade para identificar o problema genético. Seleção
Seleção é efetiva apenas se estamos lidando com fenótipos facilmente identificáveis. Entretanto, determinadas mutações indesejáveis não são sempre tão comodamente reconhecidas. Há enormes possibilidades das mutações “funcionarem”, como simplesmente não produzindo nenhum efeito significante até falharem o funcionamento de todo o organismo. Há ainda uma pequena possibilidade de melhora da vida do indivíduo, através das mutações. As mutações silenciosas não são perigosas. Entretanto, aquelas que alteram o funcionamento do organismo, e não são eliminadas, são problemas consideráveis. Um exemplo é a mutação vWD em dobermann, doença conhecida como Síndrome de Von Willebrands. Essa mutação elimina 85-90% do fator da coagulação, mas seus pequenos níveis são ainda suficientes para proteger os indivíduos afetados homozigotos de uma hemorragia interminável, na maioria das situações. O cão que é “sortudo” o suficiente para manter-se longe de ferimentos e atos cirúrgicos pode não ser diagnosticado com este mal e, pode, inclusive, ser acasalado. Conseqüentemente, a freqüência deste alelo mutante é ligeiramente maior que 50% na população canina (Brewer, 1999). Isso não deve ser tratado como uma exceção. Menos que uma, em três mutações são totalmente letais e as outras se manifestam de maneiras diferentes, num espectro de atividade de 0 a 100%, dependendo do indivíduo. Além de lidar com doenças genéticas facilmente identificáveis, em uma raça, estamos lidando com outros padrões não tão óbvios. Se perdermos a funcionalidade de um alelo a ponto de fazê-lo funcionar em 10-15% de sua capacidade, como seriam os indivíduos que funcionassem a 80-90% de suas funções normais? Por que isso deveria ser um problema?
Em uma pequena população, a deriva genética, inevitavelmente, leva à fixação de um alelo. Se cada alelo tiver sua freqüência reduzida, e os efeitos são somatórios, rapidamente lidaremos com problemas relacionados à depressão endogâmica: diminuição significativa do número de filhotes das ninhadas, diminuição da expectativa de vida, maior predisposição a doenças não-genéticas. E, novamente, não teríamos genes facilmente identificáveis para trabalhar. Conclusões
Longevidade e fertilidade, indicativos fartamente mencionados da “depressão endogâmica” estão reduzidos em populações caninas que sofreram inbreeding em um espaço de tempo relativamente curto (Laikre and Ryman, 1991; Nordrum, 1994). Entretanto, a maioria dos acasalamentos endogâmicos não parece ser intencional, da parte dos criadores, que acasalam parentes próximos (claro que há exceções), mas, sim, devido à perda de diversidade, ocasionados pela deriva genética e seleção. A perda resultante das escolhas faz qualquer cão ser aparentado entre si, não importando as escolhas e a estratégia empregada no melhoramento. Os resultados de cada raça irão depender de sorte (sim!) e da história da raça. Qual é o tamanho efetivo da população? Quantos são os fundadores? Quanto tempo levou a raça para ser formada? Quão intensa é a seleção para definir o tipo? Tem-se observado efeitos gargalo durante este processo? Quão forte é a influência dos padreadores populares no desenvolvimento da raça? O que podemos fazer?
1. Podemos controlar algumas doenças genéticas apoiando a pesquisa de genes e o desenvolvimento de testes de DNA para os alelos mutantes. Os resultados devem ser empregados de maneira que os carreadores de determinados alelos mutantes sejam acasalados somente com indivíduos não-carreadores, ao invés de acasalar apenas os indivíduos não-carreadores entre si. Essa atitude mantém o pool genético estável e impede o empobrecimento do conjunto de genes. 2. Podemos explicar aos criadores que as mutações sempre estarão entre nós e não são indicativo de falha ou má prática, e que, uma abertura na troca de informações produzirá enormes recompensas. Podemos, também, mostrar-lhes meios para atingir seus objetivos pessoais, sem fazer escolhas que são prejudiciais para a raça que criam. 3. Podemos tentar educar os clubes de raça, sobre a importância de maximizar a diversidade no genoma. Dr. Malcolm Willis, em uma conferência da AKC, relatou que muitos criadores não tem a menor idéia dos principais problemas genéticos das raças que criam, quantos filhotes nascem em média por ninhada ou quanto tempo vive, em média, um cão adulto! Menos ainda, tem idéia em como conservar a diversidade genética ou reduzir a endogamia…
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Nota: Baseado no estudo de 3 a 5 gerações de pedigrees de cães das raças Australian Shepherds, Clumber Spaniels, Poodles Standard and Malamutes.
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