Todos os dias recebo e-mails de pessoas agradecendo informações que encontram por aqui sobre a leishmaniose, a desmistificação da doença, leio histórias bacanas, reforço para mim mesma a importância da conscientização das pessoas em prol de um bem comum…
Portanto, parece que o tema “Leishmaniose Canina” vai render!
Vamos fazer a nossa parte, porque
não espera acontecer.
————————————————————————————————
Passemos então ao fatos mais atualizados. EPIDEMIOLOGIA Novas regiões foram desafiadas neste último ano e mesmo em locais onde o Flebótomo não foi encontrado, casos autóctones foram evidenciados. Por isto, nem sempre o fato da região não ser endêmica alivia a condição epidemiológica. No Brasil, devemos sempre afastar a possibilidade de um cão estar infectado com a Leishmania, independente da área em que está este paciente . SINAIS Sinais da leishmaniose são mais difíceis e somente irão se manifestar aos olhos do veterinário quando o curso da doença já é avançado – uma vez que a doença é interna, visceral. Não espere achar sinais externos para poder fechar o seu diagnóstico, pois 60% dos animais infectados não vão apresentar Sinais. Os sinais dermatológicos e o aumento dos linfonodos são, geralmente, as alterações mais precoces a serem percebidas . Hoje em dia as Pesquisas revelam que para o correto Diagnóstico é necessário dividir os animais em Assintomáticos ou Oligossintomáticos e animais Polissintomáticos – a interpretação dos resultados dos exames nestas duas condições é completamente diferente.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL – SOROLOGIA Em todo o Mundo, a Sorologia é o exame eleito como o mais SENSÍVEL para um diagnóstico laboratorial da Leishmaniose Canina. Em Todos os países onde esta doença está presente o que se realiza em PRIMEIRA INSTANCIA É A SOROLOGIA – por ELISA e IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (RIFI). Portanto, caros Colegas, não podemos ir na contra mão do mundo e achar que só aqui é tudo diferente. A SOROLOGIA É BARATA , É MUITO SENSÍVEL E MUITO ESPECÍFICA SIM! Qualquer um que dizer o contrário deve ser questionado e investigado, pois pode estar com interesses financeiros por trás disto. São centenas de publicações científicas respaldando este FATO. Use a Sorologia para o diagnóstico laboratorial da Leishmaniose! Por que utilizamos dois métodos sorológicos na Leishmaniose? –> pelo mesmo motivo que o Ministério da Saúde padronizou dois métodos no diagnóstico da AIDS – para aumentar a certeza do diagnóstico laboratorial, uma vez que se trata de doença grave e de uma zoonose. Um método sorológico (ELISA) complementa o outro (RIFI) em sensibilidade e em especificidade, a análise dos dois em conjunto é que vai nos dar um bom diagnóstico laboratorial.
Quando tenho os dois métodos divergentes, isto quer dizer que a Sorologia é ruim? -> Não, temos de analisar cada método de forma separada e manter um estreito relacionamento com seu Laboratório de escolha para discutir os casos. Atualmente o método ELISA se encontra bastante específico e por vezes conflita com o método de RIFI, que está mais Sensível do que específico. Na RIFI dificilmente vai ” passar ” um cão reagente sem que seja diagnosticado. Existe Reação cruzada? ->Podem haver alguns animais reagentes na RIFI e Não reagentes ou Indeterminados ( Zona Cinza – perto do Cutoff do teste ) no ELISA, pois o excesso de sensibilidade da RIFI pode levar ( em títulos baixos – sempre até no máximo 1/80 ) a resultados que espelham uma Reação Cruzada com outras patologias , infecções e infestações. O melhor a fazer nestes casos é solicitar a Sorologia com Diluição Total para ver até que ponto está o titulo no exame de RIFI, caso esteja acima ou igual a 1/160 descarte reação cruzada – este cão tem Leishmaniose, mesmo se o ELISA tiver indeterminado – isto vai ser possível pois o ELISA está menos sensível do que a RIFI. Siga o resultado da RIFI.
No caso de suspeita de reação cruzada a primeira coisa a fazer são os testes diagnósticos de patologias que podem levar a este quadro. Pesquise a presença de hemoparasitas, inclusive a presença de Tripanossoma. Não se esqueça de situações como Prenhez , Piometra, Dermatopatias crônicas, etc. Deu um resultado Reagente no ELISA e Não reagente na RIFI o que pode ser? Pode ser erro do laboratório ( geralmente pessoal mal treinado em RIFI ou com pouca experiência ) ou algum problema sério na conservação desta amostra – por exemplo amostra hemolisada – repita o exame em outra amostra. Falso positivo no ELISA comercial em uso é muito raro. Discuta com o Patologista do Laboratório. Deu um resultado Reagente no RIFI e Não Reagente ou Indeterminado no ELISA o que pode ser? – Pode ser Reação cruzada com outra patologia, pesquise as patologias que mais freqüentemente dão reação cruzada. – Pode ser o início de uma soroconversão de animal infectado pois com a RIFI mais sensível do que o ELISA , nós podemos começar a ter Reagentes apenas no RIFI. Repita o exame após 30 dias – neste intervalo este animal será considerado suspeito , use coleira com Deltametrina + repelentes tópicos . – Caso o título da RIFI seja 1/80 solicite diluição Total ao laboratório, caso venha maior ou igual a 1/160, descarte reação cruzada e considere este animal como Reagente.
* * Este resultado também pode ocorrer quando existe uma hemólise muito acentuada da amostra.
* * Animal em tratamento que consegue “ negativar “ o ELISA mas mantém a RIFI com baixos títulos. Lembre-se que existem Proprietários administrando Alopurinol por conta própria e isto causa uma mudança total na interpretação dos resultados dos exames. Sorologia com Diluição total, o que é isto? O exame de Reação de IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA- RIFI, é o exame sorológico que sai com títulos se der Reagente. Começando com 1/40- que consideramos um título baixo e na zona cinza da RIFI (o MS considera o suficiente para sacrifício), e indo até títulos como 1/1280 ou mais . Quanto maior o título da RIFI, pior o prognóstico, segundo a literatura científica. Portanto , saber em qual patamar , com qual título está o animal que eu encaminhei, é muito importante. Títulos maiores ou iguais a 1/160 já afastam a possibilidade de ser uma reação cruzada, as reações cruzadas são quase sempre com títulos de 1/40 e até 1/80. MOMENTO DA VERDADE – LEISHMANIOSE CANINA
1) Métodos Sorológicos. Primeiramente, para o diagnóstico sorológico da Leishmaniose canina é necessário e imperativo que sejam empregadas duas técnicas sorológicas: ELISA e a IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (IFI). Não aceite exame apenas com o método ELISA, pois sozinho pode levar a resultado falso – negativo! Não aceite resultados de ELISA in house (sem registro) pois pode haver falso positivo e falso negativo! 2) O exame de Imunofluorescência Indireta – IFI. Este método depende de uma leitura visual e para isto é necessário que o técnico seja extremamente competente e com muita experiência. Além disto, é importante uma leitura em duplicata, por observadores diferentes e sem saberem os resultados um do outro.
3) Outros Métodos Diagnósticos para Leishmaniose Não podemos esquecer que testes sorológicos requerem correlação clínica e epidemiológica e em caso de dúvida, se faz necessário a realização de outros testes diagnósticos como: PESQUISA DIRETA DO AGENTE através de Citologia/ Biópsia de Linfonodo, de Pele, ou ainda de Punção de Medula e a IMUNO-HISTOQUÍMICA. 4) Proteína Total e Frações – Relação A/G. A importância deste exame como mais um exame complementar no diagnóstico da LVC, está comprovada por trabalhos científicos publicados. Solicite, sempre junto à sorologia para Leishmaniose, o exame Proteínas Total e Frações, que vem com a relação A/G. Utiliza-se o mesmo SORO e o preço é muito acessível. Fique de olho na relação A/G, caso seja menor do que 0,60 a chance de ser uma infecção por Leishmania é grande, embora NÃO SEJA PATOGNOMÔNICO. Trata-se de mais um parâmetro que pode nos auxiliar nos casos Indeterminados ou com resultados de RIFI com 1/40 ou 1/80 persistentes. Peça sempre junto ao exame de Leishmaniose. 5) Exame com Diluição Total O exame de Imunofluorescência Indireta de rotina foi padronizado, em acordo com a FUNED, para diluição até 1/80 . À partir daí apenas faremos uma diluição maior nos casos em que o Veterinário solicitar o exame Leishmaniose Diluição Total – desta forma iremos diluir até o ponto máximo. 6) Exames Sorológicos de animais vacinados. Até o momento, na nossa experiência acumulada de centenas de exames de animais vacinados com até quatro doses, nós observamos que aqueles cães que apresentaram sorologia Reagente estavam realmente infectados com a Leishmania. Ou seja, ao contrário do que se supunha a vacinação não parece tornar o animal soropositivo ao exame. Desta forma continua sendo válido solicitar a sorologia para o diagnóstico de doença mesmo em animal vacinado. Recomendamos solicitar o exame com a Diluição Total, pois quanto maior o título mais certa a chance de ser um animal infectado . 7) Alerta : a Hemólise pode afetar o resultado. Em um belo trabalho publicado nos Anais da X Reunião de Pesquisa em Leishmaniose – em Uberaba/ outubro de 2006 – concluiu-se que a hemólise afeta a sensibilidade dos métodos – sobretudo do ELISA. A mesma cai para 75% em soros hemolisados. Isto pode explicar diversos resultados que acompanhamos na prática diária e que apresentam variação de sensibilidade em um mesmo cão em amostras diferentes. Portanto, garanta que o processo de retração do coágulo seja muito bem feito no momento da coleta. O Soro não deve estar hemolisado e isto consegue-se com uma boa coleta .
Dr. Luiz Eduardo Ristow CRMV MG 3708
RT Latoratório TECSA