Ter um protocolo individualizado de vacinação para o buldogue francês é uma decisão inteligente que muitos proprietários tomam. Afinal, cães respondem de maneira diferente às vacinas e nem todos os cães estão sujeitos às mesmas doenças quando residem em lugares diferentes e tem estilos de vida diferentes. Individualizar é a palavra chave!
Na medicina humana, os protocolos vacinais sofrem algum tipo de individualização. Por exemplo, a localização geográfica do indivíduo e sua atividade profissional definem se as vacinas farão parte do seu calendário vacinal. Infelizmente, não há o mesmo correspondente na medicina veterinária – pelo menos para alguns profissionais.
Vacina múltipla
A primeira observação que um proprietário deve fazer no cartão de vacinas de seu buldogue francês é a data de vacinação da V6 (ou V8 ou V10).
A vacina mais adequada, disponível no mercado, é a V6 (que protege contra cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa canina, parainfluenza, coronavirose e adevovirose tipo II), porém as frações que protegem contra parainfluenza, coronavirose e adevovirose tipo II não são essenciais. As vacinas V8 e V10 contém imunogênicos contra algumas cepas de leptospira, que protegem pobremente contra a leptospirose – essa é a fração mais alergênica da vacina e desnecessária para filhotinhos tão jovens.
A V6 nunca deve ser dada antes de 9-10 semanas de idade. Embora costume ser feita em 02 (duas) ou 03 (três) doses seguidas, uma única dose dessa vacina, feita após 16 semanas de idade confere proteção ao cão.
Quando fazer o 1º reforço?
O 1º reforço da vacina múltipla deve acontecer 1 ano após a tomada da sua última dose. A literatura científica demonstra que grande parte dos cães torna-se vitaliciamente protegido contra parvovirose depois desse primeiro reforço e que a proteção contra cinomose mantém-se por, pelo menos, 03 (três) anos. A hepatite infecciosa não é mais um problema para cães adultos, portanto essa fração da vacina torna-se desnecessária.
A vacina ideal, disponível no mercado, para o reforço, é a V2, que confere proteção contra cinomose e parvovirose.
Quando fazer o 2º reforço e os reforços subsequentes?
Você pode optar por fazer o reforço da V2 a cada 03 (três) anos ou pode optar por fazer a titulação de anticorpos 03 (três) anos após o primeiro reforço e repeti-lo anualmente.
A titulação de anticorpos funciona como um “comprovante” da imunidade do cão e é a maneira mais segura de proteger seu cão contra excessos vacinais.
Um percentual pequeno de cães vacinados não responde à vacinação, ou seja, não produz anticorpos. A única maneira segura de confirmar se o seu buldogue francês respondeu à vacina é fazendo a titulação de anticorpos. Aplicar doses maciças de vacinas em um cão não respondedor não fará com que ele produza anticorpos.
Vacina antirrábica
É obrigatória por lei e nunca deve ser feita antes dos 04 (quatro) meses de idade. A lei brasileira “obriga” que essa vacina seja reforçada anualmente.
Entendo perfeitamente o protocolo de vacinação da antirrábica sugerido por nosso governo. A raiva é uma zoonose fatal para humanos e o Estado deve vacinar o maior número de cães possível para nos proteger dessa doença. Mas, a literatura científica demonstra que após o 1º reforço, o cão mantém-se protegido por, pelo menos, 05 (cinco) anos.
Proprietários responsáveis, que residam em área urbana devem repensar a necessidade real dessa vacina. Afinal, qual é a probabilidade de um cão, residente em uma metrópole, ser mordido por um morcego contaminado com a raiva? Porém, cães que frequentam sítios e fazendas devem ser vacinados.
Para os cães de proprietários responsáveis que frequentam áreas rurais, o 1º reforço da antirrábica deve ser feito 01 (um) ano após a primeira dose. Os reforços subsequentes podem acontecer, no mínimo, a cada 05 (cinco) anos.
Vacina contra leishmaniose
Não há evidências científicas que comprovem a eficácia dessa vacina. Além disso, a vacina contra leishmaniose contém mercúrio – um metal neurotóxico – e produz muitos efeitos colaterais (dor, inchaço, prostração, mal estar, reações anafiláticas, etc.) no período que segue sua aplicação.
As coleiras que apresentam princípios ativos repelentes (Scalibor, por exemplo) têm eficácia cientificamente comprovada na proteção contra a picada do mosquito que transmite a leishmaniose, por terem efeito repelente.
Vacina contra giárdia
A literatura científica já demonstrou a ineficácia dessa vacina. Por isso, ela é “non core” (não recomendada) nos Estados Unidos, Europa e Oceania. Além disso, a giardíase é uma doença branda que tem tratamento eficaz.
Vacina contra dermatofitose
A literatura científica já demonstrou a ineficácia dessa vacina. Por isso, ela é “non core” (não recomendada) nos Estados Unidos, Europa e Oceania. Além disso, a dermatofitose é uma doença branda que tem tratamento eficaz.
Vacina contra gripe canina
Apenas para cães que frequentam aglomerações caninas (ambientes potencialmente contaminados com cães doentes). Exemplo: exposições caninas, hoteizinhos, abrigos.
Essa vacina tem eficácia moderada, já que freqüentemente os micro-organismos causadores da gripe canina não são aqueles contidos na vacina. A doença tem tratamento e, em geral, bom prognóstico. A vacina protege por, no máximo, 1 ano.
A 1ª dose dessa vacina não deve ser ministrada antes de 9-10 semanas de idade e o reforço deve ser anual, para cães que frequentam aglomerações caninas. A vacina V6 (V8 e V10) também imuniza contra o vírus da parainfluenza – o que torna ainda mais questionável a relação custo/benefício da vacina contra gripe canina.
Vacina contra leptospirose
É relativamente recomendada para cães que residem em área rural, onde possam vir a ter contato com a urina de ratos. A leptospirose é epidemiologicamente insignificante em áreas urbanas – exceto em casos de catástrofes, como enchentes.
Há mais de 200 (duzentos) tipos diferentes (cepas) de bactérias que provocam a leptospirose. A vacina V8 contém frações que protegem contra 02 (dois) tipos de bactérias e a vacina V10, contra 04 (quatro).
A vacina contra leptospirose confere imunidade por apenas 06 (seis) meses e é uma das vacinas que mais produz reações nos cães.
Opinião pessoal: nem se eu morasse na Índia e fosse vizinha do Templo dos Ratos, vacinaria meus cães com a vacina contra leptospirose. A sua proteção é insignificante e o custo/benefício péssimo.
► Observação importante: a eficácia da vacina e a segurança do cão ficam comprometidos quando a vacinação é feita em cães doentes e/ou que apresentam doenças crônicas (alergias, diabetes, leishmaniose, câncer, etc.). Cães doentes e/ou que apresentam doenças crônicas não devem ser vacinados.
► Caso você esteja muito tentado a dizer “Mas o meu vet diz outra coisa”, leia antes o nosso texto Mas Dr. Fulano disse uma coisa e você está dizendo outra!!! O que está descrito neste texto não é nenhuma novidade para os bons médicos-veterinários. As boas universidades de Medicina Veterinária já prescrevem protocolos vacinais individualizados.
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Pós-graduada em Genética e Biologia Molecular. Foi professora universitária federal de Biologia Celular e Genética. Criou buldogues franceses. Foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte. Foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. É editora do "Seu Buldogue Francês", o maior blog do mundo sobre buldogues franceses, e de todas as mídias sociais que levam esse nome. É palestrante e consultora sobre bem-estar e comportamento canino. Além disso tudo, é perdida e irremediavelmente apaixonada por frenchies.
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