Há cerca de 6 meses, tomei conhecimento que o veterinário XXX solicitou as vacinas déctupla (V10) e Leishmune, da empresa que distribui as vacinas da Fort Dodge, em Belo Horizonte – MG, e as vacinas foram entregues com temperatura superior às preconizadas.
Após entrar em contato com a distribuidora, ela prontificou-se a realizar a troca das vacinas. Por parte do veterinário XXX, foram sugeridas medidas providenciais, uma vez que outras clínicas/veterinários, provavelmente, receberam vacinas com temperatura inadequada, inadvertidamente.
Segundo me foi informado, o procedimento logístico de distribuição das vacinas, prezando a qualidade das vacinas da Fort Dodge é o seguinte:
1) As vacinas saem da Fort Dodge, para o distribuidor, com controle adequado de temperatura – uma caixa de isopor com vacinas e número determinados de sachês de gelo para manter as vacinas resfriadas por até 48 horas.
2) A geladeira do distribuidor local é controlada por termômetros de temperaturas máximas e mínimas, e fiscalizadas diretamente pela Fort Dodge . Se houver variação abaixo de 2 graus e acima de 8 graus, a vacina é devolvida para a fábrica para destruição (“vacina avariada”).
3) Do distribuidor para o veterinário, o procedimento deveria ser é o mesmo: uma caixa de isopor com vacinas e determinado número de sachês para o volume de vacinas, conforme a distância da clínica e meio de transporte (vendedor, moto, caminhonete, etc). A clínica, no ato do recebimento deve abrir a caixa na frente do entregador, conferir se o gelo está duro e assinar o recebimento. Caso o gelo esteja descongelado, a vacina não deve ser recebida pelo veterinário, nem deve ser assinado o recebimento. O veterinário sabe deste procedimento.
Será que a pessoa que recebe as vacinas na clínica do seu querido veterinário sabe deste procedimento também? Ou será que esta pessoa simplesmente recebe as vacinas, assina o recibo e guarda as vacinas na geladeira?
Continuando a história:
No último dia 15, tomei conhecimento que a mesma empresa entregou vacinas “quentes” para o mesmo veterinário XXX, que recebeu vacinas fora da temperatura adequada, 6 meses atrás!
Segundo seu relato, ao receber as vacinas, percebeu que não estavam na temperatura ideal, recusou o recebimento delas e solicitou que fossem trocadas. Na segunda tentativa de entrega das vacinas, esse veterinário – já precavido – dispunha de um termômetro de precisão e checou a temperatura. Para sua surpresa, a temperatura das vacinas era de 19 graus!
Para quem desconhece maiores informações técnicas sobre o assunto, o Manual de Conservação de Vacinas da Fort Dodge reza o seguinte:
A forma de conservação dos produtos biológicos deve ser a mais adequada possível, pois a temperatura pode tanto influir na eficácia da vacina como causar reações locais pós-vacinais.
A Fort Dodge, a fim de ajudá-lo a controlar a temperatura de conservação de suas vacinas oferece algumas sugestões sobre conservação de produtos biológicos.
* Temperaturas mais altas que indicam a bula, podem influenciar na eficácia do produto, principalmente naqueles que possuem vírus vivo modificado. sabemos ainda que o vírus vivo mais sensível a altas temperaturas é o da cinomose. As altas temperaturas também afetam antígenos bacterianos, rompendo-os e causando liberação de endotoxinas.
* Os adjuvantes são afetados pelo calor ou o frio extremo. Meu comentário: a saponina, adjuvante utilizado na vacina contra leishmaniose é termolábil e sua eficácia pode ficar comprometida no calor.
* A temperatura ideal de conservação está entre 2 e 8 graus centígrados.
TRADUZINDO: Vacinas quentes não funcionam e ainda provocam reações tóxicas nos pets!
Infelizmente, é um vício, em nosso país, a busca por mão de obra barata e pouco qualificada para o desempenho de funções importantes dentro de uma empresa. Quem nunca ligou para uma loja, uma clínica ou um consultório e desistiu do serviço porque foi atendido por uma pessoa notavelmente inabilitada para aquela função?
E agora vêm as perguntas:
- Será que o funcionário que acondiciona as vacinas na caixa de isopor, antes de serem transportadas, entende a importância do gelo?
- Será que quem transporta essas vacinas assume cuidados efetivos no transporte?
- Será que quem recebe as vacinas realmente averigua se elas estão na temperatura adequada no ato do recebimento?
Embora devessem, não acredito que as clínicas veterinárias utilizem termômetro de precisão para checar a temperatura das vacinas que no momento que chegam. Como dito, são os funcionários que fazem os recebimentos, assinam a nota fiscal e acondicionam o produto. Os veterinários estão ocupados em seus consultórios!
De que adianta as empresas estudarem e investirem tanto, em técnicas recombinates, novos adjuvantes, vírus modificados se a distribuição de vacinas é falha?
Honestamente, estou perplexa.
E fiquei mais perplexa ainda com as respostas que recebi, por e-mail, do responsável pela Fort Dodge aqui em Belo Horizonte: (meus comentários destacados no texto)
A Xxxxx é um dos distribuidores mais criteriosos com relação ao correto acondicionamento das vacinas Pude mesmo perceber! 🙂 , desde seu recebimento até a entrega aos clínicos veterinários. Dessa forma, a informação de que a distribuidora está “entregando vacinas quentes” é equivocada É mesmo, Sr? Certamente devo acreditar que o houve uma terrível coincidência com o envio de 03 (três) remessas de “vacinas quentes” para o mesmo veterinário? pois generaliza uma única ocorrência registrada ontem. Aqui, certamente, há uma questão semântica importante a ser colocada: o que o senhor chama de “ocorrência registrada” eu chamo de “ocorrência diagnosticada”.
A reclamação foi feita pela cliente no momento da entrega e o produto foi prontamente devolvido e descartado, não colocando em risco quaisquer pacientes que forem atendidos pelo veterinário do estabelecimento.
Coloco em cópia a Xxxxx Distribuidora Ltda. que poderá responder eventuais questionamentos que você tenha sobre esta ocorrência.
Obrigado pelo seu contato! Entendemos que a melhor forma de oferecermos o melhor serviço aos nossos clientes alinharmos nosso trabalho à expectativa e exigências do mercado. Por incrível que pareça, ainda me admira e causa espanto não ler nada como “providências serão tomadas” ou coisas do tipo. Não é curioso? O nome da empresa está em jogo e recebi um e-mail do tipo “panos quentes”, para aquecer ainda mais a situação das vacinas quentinhas… Que vergonha!!!
Para complementar a situação, a empresa que distribui as vacinas da Fort Dodge em Belo Horizonte é de propriedade de um médico veterinário. E, ao ser questionado sobre o questão das vacinas que foram entregues quentes, o mesmo, antes de desligar o telefone irritado na cara do outro interlocutor, respondeu: “Eu não vou perder tempo com coisas pequenas! Além do mais, 19 graus não é temperatura inadequada para conservação de vacinas.“
Você está chocado, né? Eu também.
Por tudo isso, sugiro que você procure saber quem é a pessoa responsável por receber as vacinas na clínica onde você vacina seu pet e qual é o procedimento adotado. Tim-tim por tim-tim!
Seja insistente! Se não te convencer, mude de clínica.
É a saúde do seu pet que está em jogo.
Ah, quase ia me esquecendo: e por que os aviões caem? Pelas mesmas razões que as vacinas não funcionam, na maioria das vezes.
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